Lumiar, na freguesia de S. Vicente, concelho de Chaves, identifica um microtopónimo raiano, no cume de um monte com mais de 650 metros de altitude, junto ao sítio do "Castelo [ou Castro] da Cidadelha", tendo, do lado da fronteira galega e a mais de 700 metros de altitude, respectivamente a Poente e a Norte, os sítios denominados "Lumeares da Cidadella" e a "A Cidadela" (grafia dos dois topónimos galegos recolhidas na Carta Militar, folha 22). Um outro Lumiar empresta o nome a uma pequena povoação da freguesia de Pelmá, concelho de Alvaiázere, também este no alto de um monte, aqui em zona menos acidentada, com cerca de 230 metros de altitude. Temos ainda outro Lumiar, freguesia do concelho de Lisboa, no aro urbano da cidade, em torno de uma colina em cujo topo se ergue a igreja paroquial. Desta série resta-nos a Pedra do Lumiar, em zona montanhosa da freguesia e concelho de Góis, que identifica um vértice geodésico a 874 metros de altitude. Corre-lhe aos pés a Ribeira do Lumiar.
Mais à frente, quando abordarmos as realidades relacionadas com as capelas de invocação de Nossa Senhora da Alumieira, falaremos então do topónimo Alumieira.
Regressando ao concelho de Armamar, em que se integra o lugar de Lumiares, destacamos a grande antiguidade dos oragos das diferentes paróquias, o que, articulado com as datas das respectivas celebrações e a marca de algumas manifestações festivas, como "o grande toco de Natal", que arde na praça ou no adro da igreja, ou as romarias de São Lázaro (com a bênção do gado), de São Gregório e de São Domingos, mostram a cristianização de diferentes cultos pagãos.
No Lumiar do concelho de Alvaiázere não nos foi possível conhecer o orago da igreja ou capela local, mas Pelmá, a freguesia do povoado em apreço, celebra São João Baptista como padroeiro, a festividade cristã que se sobrepôs às comemorações pagãs do solstício de Verão. Por sua vez, a freguesia de Góis, onde se integram a Pedra do Lumiar e a Ribeira do Lumiar, tem como orago Santa Maria Maior, que se festeja a 5 de Agosto, logo a seguir às festividades celtas em honra do deus Lug, "O Luminoso".
Lumiar, no concelho de Lisboa, denuncia um sincretismo mais completo, quando relacionamos os oragos locais com as festividades religiosas e profanas. O orago da freguesia é, mais uma vez, São João Baptista, com festividade a coincidir com o solstício de Verão. Na igreja matriz há também um altar dedicado a Santa Brígida, cultuada antes em capela entretanto desaparecida, que existia nos terrenos actualmente ocupados pelo cemitério. O culto desta santa, pretensamente portuguesa e natural de Lisboa, "martirizada pelos bárbaros no primeiro de Fevereiro do ano 518" (Pereira, 1909: vol. 4, p. 579), que ninguém sabe quem na verdade seja, apoia-se numa relíquia, a cabeça que, no reinado de D. Dinis, para aqui teria vindo, trazida por três cavaleiros irlandeses (ibidem). A lenda, bastante confusa, não explica como é que a cabeça da santa, natural de Lisboa, foi parar à Irlanda. Mas, do que não podemos duvidar é do celtismo irlandês e da importância da deusa Birgit na mitologia céltica, que a Igreja venceu através da cristianização do respectivo culto, substituído por uma santa homónima, a Santa Brígida padroeira da Irlanda.
Em meados do século XIX realizavam-se três feiras anuais no Lumiar, nos meses de Fevereiro, Junho e Agosto, datas que correspondem a três dos principais festivais do paganismo celta. A primeira destas feiras, a de Santa Brígida, que ainda acontecia no princípio do século XX, sobrepunha-se ao Imbolc celta do 1º de Fevereiro, também chamado Oilmec e Candlemas (= Candelária). A festa do fogo ou "Noite de Birgit" acontecia na passagem do dia 1 para o dia 2 de Fevereiro, dia que, no Lumiar, correspondia à comemoração de Santa Brígida, com romaria e bênção do gado, e, no santoral romano, à festa litúrgica em honra de Nossa Senhora da Candelária, também chamada Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Purificação. O Imbolc celta celebrava o despertar da terra e o poder do Sol, em franco crescimento nesta altura do ano. A deusa Birgit era venerada como a virgem da Luz que anuncia a Primavera, o que nos leva de imediato a Nossa Senhora da Candelária, do latim candela- "círio, tocha, archote", isto é, aquela que alumia, que purifica como o fogo.
A feira de Junho coincidia com as festas celtas do solstício de Verão que, como já atrás dissemos, foram cristianizadas com os festejos sanjoaninos, mas sem se conseguir que o paganismo anterior deixasse de aflorar na parte profana destas comemorações.
Por último, a feira de Agosto poderia corresponder a outro festival celta, o Lughnasadh, as festas que celebravam o casamento de Lug, a festa das colheitas que, na Irlanda, também andava ligada às divindades da fertilidade.
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