quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

À espreita do inimigo: Atalaia, Atalaias

Alto da Atalaia, Atalaia, Atalaia Cimeira, Atalaia Cortes Paraíso, Atalaia da Barroca. Atalaia da Casinha, Atalaia da Contenda, Atalaia da Coutada, Atalaia da Guarita, Atalaia da Quinta, Atalaia da Torre, Atalaia das Casas Novas, Atalaia das Ferrarias, Atalaia das Figueiras, Atalaia das Moitas, Atalaia de Baixo, Atalaia de Cima, Atalaia de Ouguela, Atalaia de São Brás, Atalaia do Alvarinho, Atalaia do Campo, Atalaia do Corgo da Rossa, Atalaia do Meio, Atalaia do Peixoto, Atalaia dos Sapateiros, Atalaia Fundeira, Atalaia Gorda, Atalaia Magra, Atalaia Nova, Atalaias, Baldio das Atalaias, Barranco da Atalaia, Cabeço da Atalaia, Casais da Atalaia, Casal da Atalaia, Casal das Atalaias, Cerro da Atalaia, Coto da Atalaia, Enseada da Atalaia (Madeira), Fonte de Nossa Senhora da Atalaia, Herdade da Atalaia, Horta da Atalaia, Lagoa da Atalaia, Marinha da Atalaia, Mato de Atalaia, Moinho da Atalaia, Moinhos da Atalaia, Monte Abaixo da Atalaia, Monte da Atalaia, Monte da Atalaia Gorda, Monte da Atalaia Lentisqueira, Monte da Atalaia Novo, Monte da Atalaia Queimada, Monte Novo da Atalaia, Monte Velho da Atalaia, Outeiro da Atalaia, Pedra da Atalaia, Picão da Atalaia, Pico da Atalaia (Madeira), Ponta da Atalaia, Porto da Atalaia, Póvoa da Atalaia, Quinta da Atalaia, Ribeira da Atalaia, Ribeiro da Atalaia, Senhora da Atalaia, Silha da Atalaia, Tapada da Atalaia, Vale da Atalaia, Vinha da Atalaia.

A voz "atalaia", do árabe at-talái'a, plural de talaia, "lugar alto onde se exerce vigilância, sentinela", aparece-nos, na Carta Militar 1/25.000, em mais de duas centenas de topónimos e microtopónimos, na forma simples ou integrada em expressões toponímicas (1). Mas nem todos provirão directamente da referida fala árabe, pois houve alguns povoados com este nome que originaram antropónimos, os quais, por sua vez, produziram novos topónimos, realidade que ocorre com frequência em onomástica.
O facto de 73 destes topónimos corresponderem a vértices geodésicos, 12 a montes e 27 a sítios mais ou menos elevados, confirma a origem do étimo e a função dos referidos lugares. A procedência antroponímica estará sobretudo nos cerca de 70 topónimos classificados como "casas" na referida Carta Militar, o que não significa que muitos deles correspondam também a antigos lugares de vigilância, isto é, a antigas "atalaias" ou "almenaras". Alguns destes topónimos inscrevem-se em expressões toponímicas com o elemento genérico (3) [ou "falso genérico"(4)] "monte", identificando uma unidade agrícola do latifúndio alentejano e não um acidente topográfico. Quanto às 22 povoações, onde se incluem 5 sedes de freguesia, poderão ter sido igualmente antigas "atalaias", se considerarmos a sua localização.
Esta toponímia está quase ausente a Norte do rio Douro, onde encontramos uma dezena de ocorrências no distrito de Bragança e no concelho de Montalegre, controlando as entradas fronteiriças mais vulneráveis. A grande concentração destes topónimos ocorre nas zonas raianas, desde o distrito da Guarda ao de Faro, e um pouco por toda a região Sul, controlando os vales e os caminhos que facilitam o acesso aos principais centros urbanos.
Alguns destes sítios e lugares encontram-se muito perto do mar, a mostrar que também dali vinham ameaças, o que a história confirma plenamente, quer no que respeita à regular actividade da pirataria moura, documentada desde a época clássica à Idade Moderna, quer às incursões normandas do século IX, responsáveis pela construção de uma rede de atalaias, mandadas erigir depois de 844 pelo emir ‘Abdal al-Rahman II.
Com funções de vigilância marítima encontramos cinco ocorrências na Ilha da Madeira; no arquipélago dos Açores apenas detectámos uma ocorrência, na ilha do Faial, numa localização que cobre qualquer movimento de aproximação ao Porto da Feteira. A quase ausência desta toponímia nas ilhas açorianas justifica-se por ser outro o apelativo que, nestas paragens, respondia pela missão de vigilância e emissão de sinais: referimo-nos ao topónimo "Facho".
Na Galiza detectámos onze frequências de Atalaia, oito das quais na província da Corunha (paróquias de Cañás, Malpica de Bergantiños, Lesón, Corme Porto, Asados, Corrubeso, Vilarrube e San Martiño de Meanos), uma em Lugo (paróquia de Labrada) e duas em Pontevedra (paróquias de Viascón e Vincios). O topónimo está também presente nas Astúrias, na Catalunha e nas Ilhas Baleares onde, em Ibiza, podemos encontrar a Atalaia de San Joseph. E deve encontrar-se em muitas outras zonas de Espanha, sob a forma Atalaya e Atalayas, se considerarmos a amostra colhida no território palentino, nas comarcas de El Cerrato, Campos, Saldaña-Valdavia, Boedo-Ojeda, Guardo, Cervera e Aguilar (Gordaliza & Canal, 1993: passim).

Notas (do Glossário de termos para a normalização dos nomes geográficos, do GENUNG: Grupo de Especialistas das Nações Unidas para os Nomes Geográficos):

(1)
Expressão toponímica: topónimo composto por um elemento genérico (3) e um elemento específico
(2), ou por um elemento específico com mais de uma palavra. Exemplos: Rossio ao Sul do Tejo; Newfoundland; Silha da Atalaia.

(2)
Elemento específico: parte de um topónimo que identifica e personaliza de modo particular a entidade geográfica nomeada. Pode comportar um artigo, uma partícula de ligação, um outro elemento linguístico. Exemplos: Cabo Mondego; Ria de Aveiro; Rio Vouga; Montemor-o-Velho.

(3)
Elemento genérico: parte de um topónimo que designa de modo geral a natureza do acidente geográfico denominado. Este elemento nem sempre indica com rigor o tipo de entidade denominada. Exemplos: Serra da Estrela, Sierra Nevada, Lac Saint-Jean.

(4) Falso genérico
: termo genérico que não indica o verdadeiro tipo de entidade representada por um elemento geográfico nomeado. Exemplos: Monte Real; Ribeira Brava; Angra do Heroísmo; Rio de Janeiro. Todos estes topónimos correspondem a lugares habitados e não a um monte, ribeira, baía ou rio.

Bibliografia:

GORDALIZA APARICIO, F. Roberto; CANAL SANCHEZ-PAGIN, Jose Maria (1993) - Toponimia Palentina. (Nuestros pueblos: Sus nombres y sus orígenes). Palencia: Caja España. 596 p. ISBN 84-87739-41-5.

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