segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

VERDEMILHO (freguesia de Aradas, concelho de Aveiro)

Entre Aveiro e Ílhavo, na zona em que se inscreve o topónimo "Crasto", encontramos o lugar de "Verdemilho" cuja grafia actual esconde quase tudo o que teria estado na sua origem, passível de ser percebido através da documentação medieval. Respondendo ao inquérito paroquial de 1758, com base no questionário ela­borado pelo Padre Luis Cardoso, o pároco de Ílhavo, João Martins dos Santos, abre caminho à compreensão do topónimo:
dos lugares do Termo que ficam fóra da fregue­zia, o mayor he uerdemilho, que no Foral se chama villa de milho (Madaíl, 1936: 303).
A documentação medieval, nomeadamente a publicada por Madaíl (1959: passim), mostra-nos a evolução deste topónimo, desde Villa de Milio (1166) a "Vila de Milho" (1355), com esta última forma a mostrar-se no "Vilademilho" de 1296. A forma actual do topónimo terá aparecido entre 1527, ainda "Vila de Milho", e 1689, lugar de "Verde­milho".
Antes
de tentarmos explicar o nome deste lugar, para o qual haveria muito mais certezas se pudéssemos contar com a prospecção arqueológica no sítio do Crasto, lem­bramos a existência, cerca de 570, de uma paróquia sueva denominada Milia, nas mar­gens do rio Ave (Fernandes, 1968: 63-64, 76).
A "Villa de Milio",
que subjaz a Verdemilho, poderá ser povoação antiquíssima, se aceitarmos uma primitiva Villa Aemilia cujo antropotopónimo tivesse resistido, nesta zona tão isolada e descentrada, ao aparecimento do caso possessivo em -anus (Villa Aemiliana) e ao genitivo de tipo integral (Villa Emilii) ou elíptico (Emilii) (Piel, 1989: 156).
O
isolamento da zona está bem patente no mapa das paróquias suevas (Fernandes, 1968: 76), total­mente ausentes de todo este litoral, certamente ainda não cristianizado. A única paró­quia registada nas proximidades corresponde a Antuã, havendo incertezas quanto à localização de Insula que, para Almeida Fernandes, se situaria na região da Feira.
Durante
a Reconquista, quando o genitivo deixou de ser usado na linguagem cor­rente, a forma única, que passa a ser utilizada, baseia-se no acusativo, como de resto acontece com os nomes comuns (Piel, 1989: 157-158). A partir daqui temos, para os topónimos deste tipo, a perífrase com a preposição de, e, a Villa Emilia de que falávamos poderia ter dado lugar à *villa de Emilio ou *villa d' Emilio (> vila d’E Milio, a “villa de Milio” de 1166), se a elisão não tivesse acontecido antes, no falar dos íncolas, com a pri­meira sílaba de Emilio a fundir-se na última de vila (*Villemilio > Villa de Milio).

In
CARVALHO, Manuel José Gonçalves de (1999) — Povoamento e vida material no concelho de Aveiro: Apontamentos para um estudo histórico-toponímico. (Tese de Mestrado). Universidade de Aveiro, 1999. 324 p. + CVII p. de anexos. ISBN 972-95014-8-3. p. 275-276.

Bibliografia:
FERNANDES, A. de Almeida (1968) –
Paróquias suevas e dioceses visigóticas. Viana do Castelo: [Arquivo do Alto Minho]. 181 p. Separata de: Arquivo do Alto Minho, vol. 14 a 16. Existe nova edição (1997), publicada em Arouca, pela Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 176 p. e ISBN 972-9474-11-7.
MADAÍL, A. G. da
Rocha (1936) – Informações paroquiais do distrito de Aveiro de 1721. Arquivo do Distrito de Aveiro. Vol. 2, nº 8 (1936), 293-306 [Nas p. 298-306 estão incluídas as informações paroquiais de 1758 referentes a Ílhavo, que abrangia povoações do actual concelho de Aveiro (Sá e Verdemilho)].
MADAÍL, António Gomes da Rocha, ed. (1959) – Milenário de Aveiro: Colectânea de documentos históricos I (959-1516). Aveiro: Câmara Municipal. 330 p.
PIEL, Joseph-Maria (1989) –
Estudos de linguística histórica galego-portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989. 282 p. (Estudos Gerais/Série Universitária).

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