terça-feira, 10 de abril de 2007

AVEIRO: Reportório toponímico das marinhas de fazer sal (3)



Marinha Balacòzinha, do nome do proprietário Balacó, apelido de família ainda vivo na actualidade, em Portugal e no Brasil.

Marinha Cachinha, do nome do proprietário Cachino, apelido ainda vivo na actualidade, em Portugal e no Brasil, sob a forma Cachinho, evolução que se explica pela palatalização da última sílaba, provocada por uma assimilação progressiva. A "marinha de cachino" já aparece num documento de 1280, numa doação feita por vários salineiros de Aveiro ao mosteiro de São João de Tarouca, que chegou a senhorear um terço da vila. A origem de "cachino", o actual Cachinho, deverá estar no latim cachinnare "rir imoderadamente, dar gargalhadas", este do gr. kakházó "rir às gargalhadas, fazer troça de alguém", correspondendo a uma derivação regressiva do verbo "cachinar", com o significado de "o que ri às gargalhadas". Uma alcunha que acabou, como muitas outras, em apelido de família.

Marinha Caldoeira (do Norte e do Sul): o nome destas marinhas explica-se pela respectiva localização, na "Cale do Oiro", donde teria derivado *Caldooiro > Caldoeiro. Esta evolução do ditongo -oi- > -ei- acontece por vezes na região de Aveiro, como já vimos quando estudámos o topónimo Eirol (ver postagem do dia 20/12/2006). A marca do feminino deve-se a atracção de género com origem em "marinha".

Marinha Caramonetes, do nome do proprietário Caramonete, apelido de família presente em Portugal e no Brasil. Este apelido deriva de "camarão" (que também existe como apelido) + sufixo diminutivo –ete > *camaronete, forma que, por metátese, deu "caramonete".
Num documento da FAO, podemos ler que uma das espécies de crustáceos existente nas águas da Nigéria é o caramonete shrimp ou tiger shrimp (Penaeus Kerathurus), o nosso "camarão tigre" que, porventura em Aveiro e noutros tempos, já se teria chamado "caramonete", passando de apelativo a alcunha e de alcunha a apelido. Possivelmente a existência deste apelativo no golfo da Guiné terá origem na presença portuguesa.

(Nota: a maior parte dos nomes das marinhas do salgado de Aveiro recebe a marca do feminino, por atracção de género do apelativo "marinha")

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