segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

CARREGA, CARRIÇO, CARRAZEDA e outros membros da família

Portugal: CARRACEDO, CARRAÇOSA, CARRAGOSA, CARRAGOSELA, CARRAGOSO, CARRAZEDA, CARRAZEDE, CARRAZEDELO, CARRAZEDO, CARREÇO, CARREGA, CARREGADO, CARREGAIS, CARREGAL, CARREGOSA, CARREGOSO, CARREGUEIRA, CARREGUEIRAS, CARREGUEIRO, CARREGUEIROS, CARRIÇA, CARRIÇAIS, CARRIÇAL, CARRIÇAS, CARRIÇO, CARRIÇOS, CARRIÇOSA. Galiza: CARRACEDO, CARRACEDOS, CARRACEIRA, CARRACHAL, CARRACIDO, CARRAGAL, CARRAGOSO, CARRAGUEDO, CARRAXO, CARREGAL, CARREGOSA, CARREIXAS, CARREXA, CARREXO, CARRICEIRA, CARRIGUEIROS, CARRIZA, CARRIZAL, CARRIZÁNS, CARRIZO, CARRIZÓ, CARRIZOS. Espanha (castelhano): CARCEDA, CARCEDO, CARRACEDA, CARRACEDELO, CARRACEDO, CARRIEDO, CARRIZAL, CARRIZO, CARRIZOSA. Espanha (por evolução moçarábica): CARCHE, (Alicante-Múrcia), CÁRCHEL, CARCHELEJO, CÁRCHELES (Jaén), CARCHOLS, CARRAIXET (Valência), CARRICHES (Toledo), CARRICOLA (Valência).

Estamos em presença de topónimos antiquíssimos, quase todos formados no latim popular. A elevada frequência das ocorrências, um pouco por toda a Península Ibérica, e as suas numerosas formas, a denunciar substratos diferenciados, indiciam apelativos profundamente relacionados com a vida material de antanho.
Os apelativos em questão ligam-se ao latim carex, carice- no acusativo, donde resultou o vernáculo "carrega" ou "carriço", uma planta gramínea, indígena da Península Ibérica, com cerca de dois metros de altura, raiz larga e rasteira, folhas lisas e flores em espigas largas. Cria-se junto da água e em terrenos pantanosos, o que justifica o empréstimo do nome a alguns hidrónimos, tendo sido muito importante no antigo mundo rural, considerando que as raízes tinham propriedades medicinais, as folhas serviam para forragem, os talos para construir as coberturas das palhoças e as espigas para fazer escovas.
Entre as várias espécies, que podem ser encontradas em Portugal, destacam-se a carex divulsa ("carrega") e a carex arenaria ("carriço-da-areia"), a primeira bastante vulgar na zona alagada do Baixo-Vouga.
Num documento do mosteiro de Grijó, dos finais do século XIII, pode ler-se que os homens que habitavam nas proximidades da lagoa de Paramos, na terra da Feira, «hião ahi colher a carrega, e o junco, e a madeira pêra cobrir as casas» (Viterbo, vol. 2, p. 137) e, nas inquirições de D. Dinis, também se fala da «alagoa [onde] vinham colher o corecil e a carrega» (apud Fernandes, 1999: 155).
Em Portugal, os derivados "Carrazedo", "Carregado", "Carregosa", "Carregal" e "Carregueira" devem ter sido formados a partir do latim vulgar, a derivar respectivamente de *caricetu, *caricatu, *caricosa, *caricale e *caricaria.
Entre os "carriço(s)" e "carriça(s)", que integram expressões toponímicas, haverá alguns antropónimos, uns com origem na toponímia, mas outros possivelmente criados com base na similitude entre a configuração das espigas da "carrega" e os cabelos crespos do indivíduo nomeado.
Quanto à localização das ocorrências portuguesas, encontramos Carriça(s) essencialmente nos distritos de Bragança e Vila Real; Carriçal, Carriçais e Carriço(s) concentrados nos distritos de Faro, Beja e Leiria; Carrazeda, Carrazede e Carrazedo com quase todas as ocorrências nos distritos de Vila Real, Bragança e Braga; Carregado com forte concentração no distrito de Lisboa; Carregosa e Carregoso entre Minho e Mondego, com especial incidência no distrito de Aveiro; por último, Carrega, Carregais e Carregal, quase todos entre Douro e Tejo, com mais ocorrências nos distritos de Santarém e Viseu, seguidos de Castelo Branco e Coimbra.

Bibliografía:
ACADEMIA Española, Real, Diccionario de la lengua española. 21ª ed. Madrid: Editorial Espasa Calpe, 1997. 2 vol., 2135 p. ISBN 84-239-9416-3.
BLUTEAU, Rafael, Vocabulário Portuguez e Latino. Coimbra, 1712-1721. 8 vol.
CABEZA QUILES, Fernando, Os nomes de lugar: Topónimos de Galicia: a súa orixe e o seu significado. 1ª ed. Vigo: Edicións Xerais de Galicia, 1992. 561 p. (Montes e Fontes). ISBN 84-7507-688-2.
CELDRÁN, Pancracio, Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa, 2002. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1
FERNANDES, A. de Almeida, Toponímia Portuguesa: Exame a um dicionário. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999. 576 p. ISBN 972-9474-13-3.
FRAZÃO, A. C. Amaral, Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Rev. e actual. de A. A. Dinis Cabral. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1981. 1040 p. + 23 actualização.

NAVAZA BLANCO, Gonzalo (2006) — Fitotoponimia galega. [A Coruña]: Fundación Pedro Barrié de la Maza. 696 p. (Biblioteca Filológica Galega). ISBN 84-95892-53-7. Tese de doutoramento.

NIETO BALLESTER, Emílio, Breve diccionario de topónimos españoles. Madrid: Alianza Editorial, 1997. 447 p. ISBN 84-206-9487-8
REIS, Álvaro (1993), Ria de Aveiro: memórias da natureza. Ovar: Câmara Municipal de Ovar. 137 p.

Sem comentários: