quinta-feira, 19 de abril de 2007

ESTANGANHOLA: achega a uma "apostila ao Ciberdúvidas"

Instituto Geográfico do Exército, Mapa de Estradas de Portugal Continental 1:250 000, 4ª ed., 2005/2006, p. 39

PARA AMPLIAR, CLIQUE NA IMAGEM


Estanganhola é um lugar meeiro das freguesias de S. Sebastião e de Rio Maior, do concelho de Rio Maior, atravessado pelo rio Penegral, que estabelece, localmente, a fronteira entre estas duas freguesias.
O consulente do Ciberdúvidas parece não conhecer a povoação, identificada por Helder Guégués, para cujo topónimo procura uma interpretação, pelo que deve ter tentado reproduzir a fala conforme lhe foi transmitida. Possivelmente, "Estangnhola" (ou "Estanguenhola") corresponderá à pronúncia local, o que seria compreensível, caso a origem deste topónimo fosse a que passamos a alvitrar.
Identificando reservatórios de água, represas ou açudes de variada dimensão, espalham-se por todo o país topónimos como "Tanque" e, principalmente a sul do Tejo, "Estanco" e "Estanque" e seus derivados, cuja lista, retirada da Carta Militar 1:25 000, pode ser consultada mais abaixo.
Estanganhola, a grafia inscrita na folha 339 da referida carta, mas que, à semelhança de outros topónimos cartografados na mesma folha, não passou por lapso ao Reportório Toponímico de Portugal, parece-nos corresponder a um derivado de estanco com dupla sufixação. Teríamos então o português antigo estanco "lago, tanque" + -inho + -ola > *Estanquinhola > *Estanquenhola (por emudecimento da vogal átona -i- em contacto com a consoante surda) > *Estanguenhola (por sonorização -q- > -g-) > Estanganhola (por assimilação progressiva).
Quanto ao "estanco" está hoje lembrado no topónimo Travessa da Azenha, em Estanganhola, a lembrar o tempo em que ali funcionava um moinho de água, certamente com um açude para armazenamento das águas desviadas do rio Penegral.

Léxico relacionado:

português

estanc- "antepositivo, de origem incerta, provavelmente pré-romana, possivelmente do indo-europeu *tankō 'fixar' (através de um latim vulgar *extancare)" (Houaiss)
estagn(i)- "antepositivo, do latim stagnum, i 'pântano'; ocorre já em vocábulos formados no próprio latim, já em cultismos do século XIX em diante" (Houaiss)
estanco 1"lago, tanque" (português antigo) (Houaiss)
estanco 2 "monopólio comercial concedido pelo Estado a uma companhia ou a uma pessoa; estabelecimento onde se vendem tabaco, cigarros e miudezas" (Houaiss)
tanque "depósito natural de águas nascentes, fluviais ou pluviais; açude, cisterna, poço" (Houaiss)
estanqueiro "indivíduo que tinha o monopólio de venda e de compra sobre determinadas mercadorias, como por exemplo o tabaco"

galego
estanque "depósito que se forma num curso de água" (Paseaban en bote polo estanque. Desde o estanque vai a auga para os muíños); "depósito construído para recolher água" (DRAG)
tanque "depósito para conter ou guardar água ou qualquer outro líquido" (DRAG)

catalão
estancar "deter o curso de uma coisa, especialmente de um líquido" (Quan les aigües s'estanquen formen llacs, bassiols, estanys, etc.) [século XII; do latim vulgar *extancare, derivado de *tancare, de origem seguramente pré-romana, *tanko 'sujeitar, fixar'] (GDLC)

espanhol
estanco
, estanca "estanque de água" (espanhol antigo) (DRAE) estancar "deter e parar o curso e corrente de um líquido" (do latim vulgar *extancāre, e este do celta *ektankō, 'fixar, sujeitar') (DRAE)
estanque (de estancar) "açude construído para recolher água, com fins utilitários, como alimentar a rega, criar peixes, etc." (DRAE)
tancar "deter a saída de um líquido, especialmente o sangue de uma ferida" (falares rurais de El Salvador e Honduras) (do latim vulgar *tancāre, 'fixar, sujeitar', e do celta *tankō) (DRAE)

provençal
estanc, estaynch, estanh, stanc "acumulação de água parada"

francês
étang "extensão de água, geralmente parada, com pouca profundidade, situada numa depressão natural ou construída pelo homem" (primeira metade do século XII estanc "extensão de água cujas bordas impedem o derramamento") (DAF)
étang "acumulação de água parada, pela configuração do terreno ou por comportas" (Littré).



topónimos:

Portugal:
ALTO DO ESTANQUEIRO (poderá referir-se a proprietário de estanco, na segunda acepção), BARRANCO DO TANQUE DOS CAVALOS, BARRANCO DOS TANQUES, BARRANCO DO VALE DO TANQUE, CABEÇO DO TANQUE, CASAL DE TANQUINHOS, CERRO DO ESTANQUE, CHÃO DO TANQUE, CORGO DO ESTANQUEIRO (poderá referir-se a proprietário de estanco, na segunda acepção), ESTANCO VELHO, ESTANGANHOLA, ESTANHEIRA OU BOA FÉ (zona de ribeiras e poços), ESTANQUE, ESTANQUE DE BAIXO, ESTANQUE DE CIMA, ESTANQUE NOVO, ESTANQUE VELHO, ESTANQUEIRA, ESTANQUEIRA DE CIMA, ESTANQUEIRA NOVA, ESTANQUEIRO, ESTANQUEIROS, ESTANQUES, ESTANQUINHO, FONTE DO TANQUE DAS CASAS, FRAGA DO TANQUE, HORTA DOS TANQUES, MONTE DO ESTANCO VELHO, MONTE DO ESTANQUE, MONTE DO ESTANQUEIRO, MONTE NOVO DO ESTANQUE, MONTE DO ESTANQUINHO, MONTE DO TANQUE, MONTE DO TANQUE DA RENDA, MONTE DOS TANQUES, MONTINHO DO TANQUE, POÇA DO TANQUE, POÇO DOS TANQUES, PORTELA DO TANQUE, QUINTA DO TANQUE, QUINTA DA TAPADA DO TANQUE, RIBEIRA DOS ESTANQUES, RIBEIRA DE TANCOS, TANCOS, TANQUE, TANQUE DO CABRIL, TANQUE DOS CAVALOS, TANQUE DA COVA, TANQUE DA DEGALHADA, TANQUE DO ESTACAL, TANQUE DA LAMEIRINHA, TANQUE DA PALMEIRA, TANQUE DO POVO, TANQUE DA SERRA, TANQUE DA MEIA LÉGUA, TANQUE DE MONTE VERDE, TANQUE VELHO, TANQUINHA, TANQUINHO, TANQUINHOS, TAPADA DO TANQUE, VALE DO ESTANHO (zona de arrozais e açudes), VALE DO TANQUE, VALE DOS TANQUES.

Galiza:
O Estanco [concelhos de Abegondo, Curtis (Corunha) e Poio (Pontevedra)], O ESTANQUE [concelhos de Cambre (Corunha) e Friol (Lugo)].