sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Alvar, Alvares, Alvariça

ALVAR: lugar da freguesia de Pedralva, concelho de Braga; lugar da freguesia de Padreiro (Salvador), concelho de Arcos de Valdevez; ALVARES: freguesia do concelho de Góis; ALVARIÇA: microtopónimo da freguesia de Cacia, concelho de Aveiro, na margem do Vouga; lugar da freguesia de Argela, concelho de Caminha, entre ribeiros e perto do rio Coura; lugar da freguesia de Espiunca, concelho de Arouca, junto de um ribeiro; AGRA DE ALVAR: lugar da freguesia de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão; ALBAR: vários na Galiza; ALBARIZA: vários na Galiza; PRADOALBAR: lugar e paróquia na Galiza, concelho de Vilariño de Conso.

A raiz indo-europeia *albh- "claro, branco", que está por detrás de alguns hidrónimos europeus, como sejam os rios Alba e Elba, está presente no latim, onde deu origem, por exemplo, ao adjectivo albus, a, um "branco" e ao substantivo albu- "cor branca, brancura, alvura".
"Prado Alvar", documentado em 959, numa das confrontações das propriedades possuídas em Aveiro (Alavario) pela condessa Mumadona Dias, poderia apontar para uma significação desse tipo, se "alvar" fosse adjectivo com o mesmo significado de "alvo". Mas esta hipótese tropeça com a presença do sufixo -ar que, em português, não forma adjectivos de adjectivos, mas sim adjectivos (familiar, escolar) ou substantivos (vilar) de substantivos (família, escola, vila). As excepções são formas eruditas pós-renascentistas ou, como parece ser o caso do adjectivo "alvar", documentado a partir do início do século XVII, uma importação do castelhano. Por outro lado, também não fazia sentido que um adjectivo isolado, sem o determinado, se transformasse em topónimo.
Excluída esta hipótese, encontramos duas interpretações que, como veremos, não aceitamos para as ocorrências que seleccionámos. Joseph Piel, em Os nomes germânicos na toponímia portuguesa (vol. 1, 1937: 27-28), identifica "Alvar" com o antropónimo Alvarus; mais tarde, nos seus Estudos de linguística histórica galego-portuguesa (1989: 86-87), referindo-se ao topónimo "Prado Alvar", que, como vimos, também aparece na Galiza, sob a forma aglutinada Pradoalbar, este autor continua a manter a mesma opinião. Almeida Fernandes, na sua obra Toponímia Portuguesa, rejeita a leitura de Piel, reclamando "alvar" e todos os seus derivados para um pretenso apelativo do carvalho português, também conhecido por "alvarinho", "carvalho-alvarinho", "carvalho-comum" e "roble".
No primeiro caso não vemos como a oxítona "alvar" poderá derivar ou representar a proparoxítona Álvaro; no segundo não descortinamos qualquer relação entre um "prado" e o "carvalho".
"Alvar" poderia ainda ser um derivado de "arval", do latim arvu- "campo, terra lavrada, seara", mas tal hipótese não faria qualquer sentido na associação com "prado", do latim pratu- "prado, terreno, campo".
Pesando todas estas hipóteses, inclinamo-nos para uma tautologia, que poderá recuar ao adstrato típico do convívio entre duas línguas diferentes, tautologia tanto mais facilitada, quanto verificamos, como veremos de seguida, aproximações semânticas entre a voz celta e a latina, pois destas línguas se trata.
Pensamos que este "alvar" corresponderá a uma voz celta, detectável no escocês e no irlandês arbhar, "cereais, plantas gramíneas", e no velho-irlandês arbe, com o mesmo significado.
No que se refere a "Alvariça", discordamos mais uma vez de Joseph Piel, autor que, embora declarando a surpresa pela presença do sufixo -iça, interpreta o topónimo com o sentido de uma "casa, etc. que pertence ou que pertenceu a um chamado Álvaro", quando é certo que o sufixo -iça nunca se aplica a nomes pessoais. Pela nossa parte, interpretamos os topónimos "Alvariça", todos junto a cursos de água, como o "sítio dos pastos", com o sufixo -iça a designar lugar, como em "cavalariça" ou como no topónimo português "Vacariça" (nome de uma freguesia do concelho da Mealhada, de um lugar na freguesia de Refóios do Lima e de outro lugar na freguesia de Lanhelas).

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