O documento a que se refere esta notícia, datado do ano 960 da era de César, a que corresponde o ano 922 da era de Cristo, pertence ao Livro Preto da Sé de Coimbra (1), donde foi copiado por Alexandre Herculano para publicação nos seus Diplomata et Chartae (2).
Como foi provado por Pierre David (3) e Miguel de Oliveira (4), trata-se de um falso datado do século XII, porventura nunca anterior a 1115 ou 1116 (5), manifestamente forjado na diocese conimbricense, com o desígnio de contrariar a pretensão da Sé portucalense de estender o seu território para a margem esquerda do rio Douro. Estavam em causa várias doações de propriedades na margem esquerda do Douro, feitas pelo rei Ordonho II (rei da Galiza de
Mas vamos ao que importa.
Segundo o Diário de Aveiro, João Gaspar pretende ter encontrado um documento que faz recuar 37 anos a data da mais antiga referência escrita para Aveiro, aqui sob a grafia Aliovirio. Mais acrescenta que o dito topónimo corresponde a um porto marítimo, coisa que não aparece em qualquer parte deste diploma.
No documento em análise, diz-se textualmente:
[…] et dedit ipse rex et ipsi comites nabulum et portaticum de dorio in die sabbati de portu de aliovirio et per totos illos portus usque in illa foce de durio […] (6).
A povoação, que ficava junto do rio Douro, entre Peso da Régua e Mesão Frio, «subtus montis Maraon discurent ribulo Sarmenia [ribeira de Sermanha] et flumine Doyro» (5), teria alguma importância, considerando a magna reunião dirigida pelo rei, que ali teve lugar em 911, e o facto de ali terem sido cunhadas duas moedas do rei visigodo Suintila (621-632).
O antigo porto de Aliovirio devia corresponder, grosso modo, à actual povoação de Caldas de Moledo, onde a antiga via militar romana de Bracara aos Transcudani, etc., por Lamego, atravessava o rio Douro (7).
(2) Herculano, Alexandre, dir.; Academia das Ciências de Lisboa, ed. lit. – Portugaliae Monumenta Historica: a saeculo octavo post Christum usque ad quintumdecimum. Diplomata et chartae. Olisipone: Typis Academicis, 1868. Vol. 1, fasc. 1, p. 16-17 (doc. n.º 25).
(3) DAVID, Pierre – Études historiques sur la Galice et le Portugal: du VIe au XIIe siècle. Lisboa-Paris: Institut Français au Portugal, 1947. XIV-579 p. (Collection Portugaise; vol. 7). p. 246-247.
(4) OLIVEIRA, Miguel de – Os Territórios Diocesanos. In Lusitania Sacra. Lisboa: Centro de Estudos de História Eclesiástica. Tomo I (1956), p. 45-50.
(5) COSTA, Avelino de Jesus da – O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1959. 2 vol. Vol. 1, p. 112, 138, 158-160, 163.
(6) Tradução: «e doou o mesmo rei e os mesmos condes o návão e o portádego do Douro, no sábado [de cada semana], desde o porto de Aliovirio e por todos os portos até à foz do Douro»
(7) FERNANDES, A. de Almeida – Paróquias suevas e dioceses visigóticas. Viana do Castelo: [Arquivo do Alto Minho], 1968. 181 p. Separata do "Arquivo do Alto Minho", vol. 14 a 16. p. 81-83.
(7) FERNANDES, A. de Almeida – Paróquias suevas e dioceses visigóticas. 2ª ed. resumida e actualizada. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1997. 176 p. ISBN 972-9474-11-7. p. 74-75.
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