quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Eirol, Ourol, Ourolo

Em Portugal: EIROL, freguesia do concelho de Aveiro; orago da paróquia: Santa Eulália. Na Galiza: CHAO DE OUROL, lugar da paróquia de Ourol (Santa Maria), concelho de Ourol, província de Lugo; OUROL, lugar da paróquia de Ourol (Santa Maria), concelho de Ourol, província de Lugo; paróquia do concelho de Guntín, da invocação de San Xulián, província de Lugo; paróquia do concelho de Ourol, da invocação de Santa María, província de Lugo; concelho da província de Lugo; OUROL DE ABAIXO, lugar da paróquia de Ourol (San Xulián), concelho de Guntín, província de Lugo. OUROL DE ARRIBA, lugar da paróquia de Ourol (San Xulián), concelho de Guntín, província de Lugo; OUROLO, lugar da paróquia de Taragoña (San Salvador), concelho de Rianxo, província de A Corunha; O RIO DE OUROL, lugar da paróquia de Ourol (Santa Maria), concelho de Ourol, província de Lugo. Em França: AURIOL, burgo industrial, situado a meia distância de Marselha e Saint-Maximin.

O topónimo Eirol, que corresponde à sede de uma das actuais freguesias do concelho de Aveiro, bem como todas as ocorrências detectadas na Galiza, sob a forma Ourol e Ourolo, e ainda um Auriol no sul de França, derivam do antropónimo latino Aurius, através do hipocorístico Auriolus.
Uma villa Aurioli estaria na origem de Eirol, considerando que, para esta freguesia do concelho de Aveiro, estão atestadas as formas Auriol (1166), Ourol (1220, 1328), Oyrol (1282), Eyrol (1282, 1689) e Eiroll (1516, 1527). A primeira destas formas corresponde ao emudecimento e apócope do -i final do latim vulgar, que ocorre depois da líquida -l- (Huber, 1986: 53 e 90). A passagem do ditongo au para ou/oi é um fenómeno normal do português, havendo igualmente exemplos da mudança de ou- para ei-, como é o caso de Eiteiro por Outeiro, Eiroso por Ouroso = Oiroso (Silveira, 1922: 201) e Eirô por Ourô que detectámos no concelho de Aveiro.
As formas toponímicas "Eirol" e Ourol apontam para uma datação que poderá iniciar-se nos séculos V-VI, quando o genitivo, tipicamente hispânico, substitui o sufixo -anus e atravessar todo o período suevo-visigótico até à Reconquista, quando, por volta do século XII, surge a perífrase com a preposição de. Já a forma Ourolo pertencerá a este último período, quando o genitivo deixou de ser usado na linguagem corrente e a forma única, que passa a ser utilizada, baseia-se no acusativo (Ourolum > Ourolu- > Ourolo), como de resto acontece com os nomes comuns. A partir daqui temos, para os topónimos deste tipo, a peréfrase com a preposição de (villa de Ourolo), ou a respectiva forma elíptica (Ourolo).
São de rejeitar as fantasias de Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno, que começa por explicar o topónimo como diminutivo de "eira", para de seguida apresentar o rio "Erool", no Languedoc, numa leitura grosseira do hidrónimo "Herault" (antigo Arauris).
Mas é precisamente esta interpretação errónea, a que tem merecido honras de repetição em vários trabalhos referidos a Águeda, já que o Herault francês desagua no Mediterrâneo, junto da cidade de Agde.
Quanto ao antropónimo de origem latina, donde provém esta toponímia, continua vivo em França, sob as formas "Oriol" e "Auriol", concentrando-se sobretudo no Sul, nos Midi-Pyrénées (principalmente no Tarn e na Haute Garonne) e no Languedoc-Roussillon. Em Portugal o antropónimo Auriol desapareceu, mas ainda era bastante vulgar no século XI, como podemos comprovar no Livro Preto da Sé de Coimbra, onde o encontrámos em documentos de 1032, 1038, 1045, 1078, 1083 e 1098 (e mais haverá).
Embora nos inclinemos para esta interpretação, não queremos deixar de apresentar uma alternativa ao hipocorístico de Aurius, que seria o mesmo Auriolus ter origem no adjectivo latino aureolus, a, um, "da cor do ouro, bonito, encantador", aludindo à beleza do nomeado ou ao loiro do seu cabelo.


Bibliografia
HUBER, Joseph, Gramática do Português Antigo. Lisboa: FCG, 1986, 417 p.
LIVRO PRETO da Sé de Coimbra. Coimbra: Arquivo da Universidade, 1977-1978. 3 vol.
MADAÍL, A. G. da Rocha (org.), Colectânea de Documentos Históricos. I, 959-1516. Aveiro: Câmara Municipal, 1959. XVII, 330 p.
SILVEIRA, Joaquim da, Toponímia portuguesa. In Revista Lusitana. Vol. 24 (1922) p. 200-202.

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