Fajã é "toda a área de terreno relativamente plana, susceptível de albergar construções ou culturas, anichada na falésia costeira entre a linha da preia-mar e a cota dos 250 m de altitude". A definição é oficial, para a Região Autónoma dos Açores, cujo parlamento achou por bem consagrá-la no Decreto Legislativo Regional n.º 32/2000/A (Wikipédia, s.v. "Fajã"). E é bem longo o rol de topónimos açorianos em que entra o apelativo "fajã", quase sempre elemento genérico de uma expressão toponímica.
Numa obra de referência para os assuntos madeirenses, com primeira edição datada de 1921, podemos ler que se dá
O topónimo tem por base um apelativo ainda vivo nos arquipélagos atlânticos, correspondendo a uma formação popular que resultou da aglutinação de um substantivo e do adjectivo que o qualificava.
Começando pelo substantivo, referimo-nos à voz faixa "pedaço longo e estreito de terra" (Houaiss), "porção de terra estreita e longa" (Machado)", do latim fascia, que ainda hoje o povo pronuncia faxa, fenómeno já documentado no século XIV (Nunes, 1989: 80). À referida fala portuguesa corresponde o espanhol haza "porción de tierra labrantía o de sembradura" (Academia), o catalão feixa "peça de terra de conreu en forma de terrassa, construïda amb marges de pedra seca als vessants muntanyencs" e as formas aragonesas faixa e feixa "trozo de tierra largo y estrecho, campo de reducidas dimensiones", ainda hoje muito produtivas na toponímia e microtoponímia locais (Selfa Sastre, 2000: 132-133 e 289). É possível que alguns topónimos galegos Facha(s) respondam à mesma realidade, principalmente as ocorrências bastante afastadas da costa marítima, o que só pode ser confirmado localmente.
O adjectivo que qualificava "faixa", a responder à definição com que iniciámos esta entrada — "área de terreno relativamente plana" —, seria naturalmente o feminino chã.
Assim, da primitiva faixa chã, "faxa chã" na boca do povo, que a oralidade aglutinaria em *faxachã, teria resultado *fachã, por haplologia a impedir a cacofonia, e, desta última, por sonorização da palatal surda -ch- na sonora -j-, fenómeno facilitador da articulação, teríamos chegado à actual "fajã".
Esta voz deve ter entrado nas Canárias através do arquipélago da Madeira, existindo ali como apelativo da mesma realidade, sob a forma castelhanizada "fajana", significando "terreno llano al pie de laderas o escarpes y formado comúnmente por materiales desprendidos de las alturas que lo dominan" (Academia).
Quanto a Faião, estamos perante um antropónimo que recua à presença muçulmana na Península, continuando hoje vivo como apelido. Faião, lugar da freguesia de Terrugem, concelho de Sintra, e possivelmente Alfaião, freguesia do concelho de Bragança, a "parrochia Sancti Martini de Alfayãa" das Inquirições afonsinas de 1258, terão sido propriedades de um "(al) Fayam" (Pereira, 1998: 217), antropónimo hispano-árabe derivado do hipocorístico Hayyiun, de hayy "vivo" (Terès, 1990: 170). Mas já a Quinta do Faião, no concelho de Sernancelhe, é ou foi património de uma família Faião, ou não fosse ali proprietário o Eng.º Manuel Faião, como prova a acta n.º 24 de 10 de Novembro de 2006, da câmara do referido concelho (e viva o Google!). A origem árabe de "Faião" escapou a Joseph Piel (1937: 101) e Almeida Fernandes (1999: 285) que, embora com algumas divergências integraram este topónimo no grupo que a seguir vamos tratar.
Outra origem terão os topónimos Faiões, freguesia do concelho de Chaves, a "villam que dicitur Faiones" de um documento de 1145 do Liber Fidei da Sé de Braga (Costa, 1959: vol. 2, p. 428), Fajão, freguesia do concelho da Pampilhosa da Serra, e Fajões, lugar da freguesia de Cesar, concelho de Oliveira de Azeméis, o "Faiones" de 1265 (Durand, 1971: 274). Considerando as formas medievais conhecidas, estaremos em presença de topónimos formados a partir do nome germânico dos respectivos possessores que, nos casos em apreço, poderá ser o antropónimo Fagila, documentado na Galiza e em Portugal (séc. X), um hipocorístico de *fahs "alegre". Os nomes masculinos germânicos, terminados em -a, tenderam a latinizar em -us ou romanizar em -o, neste caso com o genitivo em -onis. Desta forma, uma villa Fagilonis daria sucessivamente *Fagiones (síncope do -l- intervocálico), Faiones (síncope do -g- do grupo -gi- intervocálico, como em regina > rainha) e Faiões (síncope do -n- intervocálico e nasalação do -o-, sendo Fajões uma evolução de Faiões (consonantização). Em Fajão temos a mesma origem, não a partir do genitivo, mas do caso oblíquo, o acusativo Fagilone-.
Bibliografía:
ACADEMIA ESPAÑOLA, Real (1992) — Diccionario de la lengua española. 21ª ed. Madrid: Espasa. 2 vol.
CELDRÁN, Pancracio (2002) — Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1.
COSTA, Avelino de Jesus da (1959) — O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 2 vol.
CUNHA, António Geraldo da (coord.) (2002) — Vocabulário Histórico-Cronológico do Português Medieval. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa/Ministério da Cultura. ISBN 85-7004-237-X. Em cd-rom.
DURAND, Robert (ed.) (1971) — Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XIe-XIIIe siècles). Int. et notes de Robert Durand. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian / Centro Cultural Português. LV, 330 p. (Fontes Documentais Portuguesas; 2).
FERNANDES, A. de Almeida (1999) — Toponímia Portuguesa: Exame a um dicionário. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999. 576 p. ISBN 972-9474-13-3.
HOUAISS, Antônio [et al.] (coord.) (2001) — Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva. ISBN 85-73-02396-1. Em cd-rom (ferramenta de alto nível). Existe edição portuguesa em suporte papel, 6 vol., Círculo de Leitores (que bom seria se também existisse em cd-rom).
MACHADO, José Pedro (Coord.) (1991) — Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª ed. Lisboa: Publicações Alfa. 6 vol. ISBN 972-626-035-3.
NUNES, José Joaquim (1989) – Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa: Fonética e morfologia. 9ª ed. Lisboa: Clássica Editora. XVI-454 p. ISBN 972-561-172-1.
PEREIRA, Gabriel (org.) (1998) — Documentos históricos da cidade de Évora. [Lisboa: s.n., 1998]. 3 pt. em 1 vol. Reprodução fotocopiada da ed. de Évora: Typ. da Casa Pia, 1885-1891.
PIEL, Joseph M. (1937-1945) — Os nomes germânicos na toponímia portuguesa. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos. 2 vol., 303 p.
PIEL, Joseph M. (1947) — Nomes de lugar referentes ao relevo e ao aspecto geral do solo (Capítulo de uma toponímia galego-portuguesa). Revista Portuguesa de Filologia. Coimbra: Casa do Castelo, Editora. Vol. 1, nº 1 (1947), p. 153-196.
SELFA SASTRE, Moisés (2000) — Toponimia del Valle Médio del Ésera (Huesca): Estudio lingüístico y cartografia. Lleida: Universitat de Lleida, 2000. 308 p. Tese de doutoramento. Em linha no endereço(página de apresentação, com ligação aos diferentes capítulos.
SILVA, Fernando Augusto da; MENESES, Carlos Azevedo de (1978) — Elucidário madeirense. 4ª ed. Funchal: Secretaria Regional da Educação e Cultura. 3 vol. 1º vol.: A-E, 413 p.; 2º vol.: F-N, 448 p.; 3º vol.: O-Z, 413 p.
TERÉS, Elias (1990-1992) — Antroponimia hispanoárabe (Reflejada por las fuentes latino-romances). Ed. Jorge Aguadé, Carmen Barceló y Federico Corriente. Anaquel de estudios árabes. Madrid: Universidad Complutense. Nº 1 (1990), p. 129-186; nº 2 (1991), p. 13-34; nº 3 (1992), p. 11-35. ISSN 1130-3964
VASCONCELOS, José Leite de (1931) — Opúsculos. Volume III: Onomatologia. Coimbra: Imprensa da Universidade. p. 420
WIKIPÉDIA, s.v. "Fajã", no endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/Faj%C3%A3
Numa obra de referência para os assuntos madeirenses, com primeira edição datada de 1921, podemos ler que se dá
"na Madeira o nome de "Fajãs" a certos tractos de terreno, de maior ou menor extensão, formados pelo desmoronamento de terras situadas a montante, constituindo em geral um solo de notável fertilidade. As "Fajãs" formam-se tanto no interior da ilha pelo desabamento de terras que se desagregaram das vertentes das montanhas, como ao longo de toda a costa marítima, de que são frisantes exemplos uma parte considerável da freguesia do Jardim do Mar, o Lugar de Baixo, a Fajã dos Padres, a Fajã da Areia, e ainda outras. O termo "Fajã" é em geral usado toponimicamente e existem dezenas de sítios que têm o nome de Fajã de...» (Silva & Meneses, 1978: v.2, p.).Para além dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, também encontramos o topónimo em Cabo Verde, como é o caso de Fajãzinha, vila do município de Mosteiros, e de Fajã de Água, vila na ilha da Brava.
O topónimo tem por base um apelativo ainda vivo nos arquipélagos atlânticos, correspondendo a uma formação popular que resultou da aglutinação de um substantivo e do adjectivo que o qualificava.
Começando pelo substantivo, referimo-nos à voz faixa "pedaço longo e estreito de terra" (Houaiss), "porção de terra estreita e longa" (Machado)", do latim fascia, que ainda hoje o povo pronuncia faxa, fenómeno já documentado no século XIV (Nunes, 1989: 80). À referida fala portuguesa corresponde o espanhol haza "porción de tierra labrantía o de sembradura" (Academia), o catalão feixa "peça de terra de conreu en forma de terrassa, construïda amb marges de pedra seca als vessants muntanyencs" e as formas aragonesas faixa e feixa "trozo de tierra largo y estrecho, campo de reducidas dimensiones", ainda hoje muito produtivas na toponímia e microtoponímia locais (Selfa Sastre, 2000: 132-133 e 289). É possível que alguns topónimos galegos Facha(s) respondam à mesma realidade, principalmente as ocorrências bastante afastadas da costa marítima, o que só pode ser confirmado localmente.
O adjectivo que qualificava "faixa", a responder à definição com que iniciámos esta entrada — "área de terreno relativamente plana" —, seria naturalmente o feminino chã.
Assim, da primitiva faixa chã, "faxa chã" na boca do povo, que a oralidade aglutinaria em *faxachã, teria resultado *fachã, por haplologia a impedir a cacofonia, e, desta última, por sonorização da palatal surda -ch- na sonora -j-, fenómeno facilitador da articulação, teríamos chegado à actual "fajã".
Esta voz deve ter entrado nas Canárias através do arquipélago da Madeira, existindo ali como apelativo da mesma realidade, sob a forma castelhanizada "fajana", significando "terreno llano al pie de laderas o escarpes y formado comúnmente por materiales desprendidos de las alturas que lo dominan" (Academia).
Quanto a Faião, estamos perante um antropónimo que recua à presença muçulmana na Península, continuando hoje vivo como apelido. Faião, lugar da freguesia de Terrugem, concelho de Sintra, e possivelmente Alfaião, freguesia do concelho de Bragança, a "parrochia Sancti Martini de Alfayãa" das Inquirições afonsinas de 1258, terão sido propriedades de um "(al) Fayam" (Pereira, 1998: 217), antropónimo hispano-árabe derivado do hipocorístico Hayyiun, de hayy "vivo" (Terès, 1990: 170). Mas já a Quinta do Faião, no concelho de Sernancelhe, é ou foi património de uma família Faião, ou não fosse ali proprietário o Eng.º Manuel Faião, como prova a acta n.º 24 de 10 de Novembro de 2006, da câmara do referido concelho (e viva o Google!). A origem árabe de "Faião" escapou a Joseph Piel (1937: 101) e Almeida Fernandes (1999: 285) que, embora com algumas divergências integraram este topónimo no grupo que a seguir vamos tratar.
Outra origem terão os topónimos Faiões, freguesia do concelho de Chaves, a "villam que dicitur Faiones" de um documento de 1145 do Liber Fidei da Sé de Braga (Costa, 1959: vol. 2, p. 428), Fajão, freguesia do concelho da Pampilhosa da Serra, e Fajões, lugar da freguesia de Cesar, concelho de Oliveira de Azeméis, o "Faiones" de 1265 (Durand, 1971: 274). Considerando as formas medievais conhecidas, estaremos em presença de topónimos formados a partir do nome germânico dos respectivos possessores que, nos casos em apreço, poderá ser o antropónimo Fagila, documentado na Galiza e em Portugal (séc. X), um hipocorístico de *fahs "alegre". Os nomes masculinos germânicos, terminados em -a, tenderam a latinizar em -us ou romanizar em -o, neste caso com o genitivo em -onis. Desta forma, uma villa Fagilonis daria sucessivamente *Fagiones (síncope do -l- intervocálico), Faiones (síncope do -g- do grupo -gi- intervocálico, como em regina > rainha) e Faiões (síncope do -n- intervocálico e nasalação do -o-, sendo Fajões uma evolução de Faiões (consonantização). Em Fajão temos a mesma origem, não a partir do genitivo, mas do caso oblíquo, o acusativo Fagilone-.
Bibliografía:
ACADEMIA ESPAÑOLA, Real (1992) — Diccionario de la lengua española. 21ª ed. Madrid: Espasa. 2 vol.
CELDRÁN, Pancracio (2002) — Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1.
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DURAND, Robert (ed.) (1971) — Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XIe-XIIIe siècles). Int. et notes de Robert Durand. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian / Centro Cultural Português. LV, 330 p. (Fontes Documentais Portuguesas; 2).
FERNANDES, A. de Almeida (1999) — Toponímia Portuguesa: Exame a um dicionário. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999. 576 p. ISBN 972-9474-13-3.
HOUAISS, Antônio [et al.] (coord.) (2001) — Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva. ISBN 85-73-02396-1. Em cd-rom (ferramenta de alto nível). Existe edição portuguesa em suporte papel, 6 vol., Círculo de Leitores (que bom seria se também existisse em cd-rom).
MACHADO, José Pedro (Coord.) (1991) — Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª ed. Lisboa: Publicações Alfa. 6 vol. ISBN 972-626-035-3.
NUNES, José Joaquim (1989) – Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa: Fonética e morfologia. 9ª ed. Lisboa: Clássica Editora. XVI-454 p. ISBN 972-561-172-1.
PEREIRA, Gabriel (org.) (1998) — Documentos históricos da cidade de Évora. [Lisboa: s.n., 1998]. 3 pt. em 1 vol. Reprodução fotocopiada da ed. de Évora: Typ. da Casa Pia, 1885-1891.
PIEL, Joseph M. (1937-1945) — Os nomes germânicos na toponímia portuguesa. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos. 2 vol., 303 p.
PIEL, Joseph M. (1947) — Nomes de lugar referentes ao relevo e ao aspecto geral do solo (Capítulo de uma toponímia galego-portuguesa). Revista Portuguesa de Filologia. Coimbra: Casa do Castelo, Editora. Vol. 1, nº 1 (1947), p. 153-196.
SELFA SASTRE, Moisés (2000) — Toponimia del Valle Médio del Ésera (Huesca): Estudio lingüístico y cartografia. Lleida: Universitat de Lleida, 2000. 308 p. Tese de doutoramento. Em linha no endereço
SILVA, Fernando Augusto da; MENESES, Carlos Azevedo de (1978) — Elucidário madeirense. 4ª ed. Funchal: Secretaria Regional da Educação e Cultura. 3 vol. 1º vol.: A-E, 413 p.; 2º vol.: F-N, 448 p.; 3º vol.: O-Z, 413 p.
TERÉS, Elias (1990-1992) — Antroponimia hispanoárabe (Reflejada por las fuentes latino-romances). Ed. Jorge Aguadé, Carmen Barceló y Federico Corriente. Anaquel de estudios árabes. Madrid: Universidad Complutense. Nº 1 (1990), p. 129-186; nº 2 (1991), p. 13-34; nº 3 (1992), p. 11-35. ISSN 1130-3964
VASCONCELOS, José Leite de (1931) — Opúsculos. Volume III: Onomatologia. Coimbra: Imprensa da Universidade. p. 420
WIKIPÉDIA, s.v. "Fajã", no endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/Faj%C3%A3
2 comentários:
Na Galiza existe ainda o apelido "Alfaya", quizá correspondente a unha forma castelanizada de "Alfaia". Pódese ver a sua distribuiçom geográfica aqui: http://servergis.cesga.es/website/apelidos/viewer.asp
Grato pela achega e pelo endereço, avanço com outra achega que, apesar de me parecer bem fundamentada, não passará de mera hipótese.
Na minha opinião, o apelido "Alfaia" não pertencerá a nenhuma das famílias abordadas nesta postagem e terá tido a sua origem no romance castelhano.
O espanhol "alfaya", do hispano-árabe "alháyya", e este do árabe clássico "hay'ah", "excelência ou qualidade superior, distinção", terá entrado na onomástica como alcunha, passando depois a apelido. Tem pois origem num nome comum e não na antroponímia árabe. O apelido, que significa "pessoa distinta, de excelentes qualidades", terá passado de Castela para a Galiza e Portugal e, da Península, para a América Latina. E aqui teremos porventura a primazia (falo de Portugal e Galiza), ou não sejamos nós um povo de emigrantes.
Mas, pensando melhor, e olhando para o homem ibérico dos finais da Idade Média e Antigo Regime, não ficaria surpreendido se a alcunha "Alfaia" se referisse à aparência do nomeado e não às suas qualidades morais. Neste caso, o "Alfaia" corresponderia a um indivíduo "presunçoso", "peralvilho", "janota", "presuntuoso", "presumido".
Um abraço de
Portugal
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