sexta-feira, 30 de novembro de 2007

CHORENSE, CHORENTE, CHORIDA, CHORIDO, CHORIO, CHORIOS, CHURIA

Em Portugal:
CHORENSE
(freguesia do concelho de Terras de Bouro); CHORENTE (freguesia do concelho de Barcelos; região na freguesia de Rabal, concelho de Bragança); CHORIDA (vértice geodésico, a 1087 metros de altitude, na freguesia de Candemil, concelho de Amarante); CHORIDO (casas na freguesia de Nespereira, concelho de Gouveia; região na freguesia de S. Vicente, concelho de Abrantes); CHORIO (casas na freguesia de Rossas, concelho de Arouca); CHORIOS (região na freguesia de Roge, concelho de Vale de Cambra); CHURIA (casas na freguesia de Caparrosa, concelho de Tondela); PONTE DO CHORIDO (ponte na freguesia de S. Pedro, concelho de Gouveia).

Na Galiza:
CHORIDE (lugar na freguesia de Figueredo, concelho de Cesuras); CHORENTE (vários lugares e uma freguesia); CHURIZ (lugar da freguesia de Caraño, concelho de Pol); A CHURÍA (lugar da freguesia de Muíño, concelho de Zas); CHURÍO (freguesia do concelho de Irixoa)


Ao contrário do que faço habitualmente, procurei o topónimo CHORIOS na Carta Militar 1/25000 inscrevendo todas as suas letras na janela de «Pesquisa livre». Daqui resultou uma única ocorrência, que tratei na postagem anterior.
A achega de Calidónia levou-me a nova pesquisa, agora a partir de «chori» e churi», o que revelou outras ocorrências, do que poderão ser topónimos com o mesmo étimo, derivados do substantivo latino flore- “flor” > «chor», agora com algumas incursões na antroponímia, confirmando a interpretação aventada na última postagem. Vejamos!

CHORENSE, que deveria grafar-se «Chorence», corresponde a um antropotopónimo, formado a partir do nome do possessor de uma antiga «vila», no caso uma villa Florentii (genitivo de Florentius). O patronímico deste nome aparece-nos num documento de 1018, grafado Florenci (Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, p. 256).

CHORENTE, com ocorrências em Portugal e na Galiza, corresponde, como o anterior, a um antropotopónimo, formado a partir do nome do possessor de uma propriedade, fosse ela um fundus, um vicus ou uma villa. Nalguns dos múltiplos casos identificaria uma villa Florenti (genitivo de Florentus).

CHORIDE, na Galiza, é um outro antropotopónimo que, por certo, identificaria uma villa Floridi ou Floridii (genitivos respectivamente de Floridus e de Floridius). No Livro Preto da Sé de Coimbra, em vários documentos dos séculos XI-XII, encontramos este antropónimo, sob as grafias Floridi, Florido, Florit, Florite, Floriti, Florito. Na Galiza está atestada a forma Floridius. Não esqueçamos que estas grafias estão alatinadas, já que estamos perante documentos escritos em latim medieval. No linguajar dos íncolas o grupo consonântico fl- já teria dado lugar a ch-. A regressão posterior deve-se a formação erudita, na maioria dos casos de responsabilidade eclesiástica.

CHURIZ, na Galiza, corresponderá certamente a um outro antropotopónimo, que identificaria uma villa *Flori(d)ici ou *Florici (genitivos respectivamente de *Floridicus e de *Floricus, hipocorísticos de Floridius e de Florus).

Os topónimos CHORIO e CHORIOS estão explicados na postagen anterior, com CHORIDA e CHORIDO a atestar a forma intermédia, antes da queda do -d- intervocálico. Almeida Fernandes também faz derivar estes topónimos do latim flore-, quando estuda a ocorrência «Chorio» no concelho de Arouca. As grafias CHURIO, CHURIA e CHURIZ mais não fazem que acompanhar a evolução da pronúncia popular, em que o o do latim vulgar passa a u antes do i da sílaba seguinte (Huber, 1986: 64). Atente-se como o povo pronuncia “flurido” em vez de “florido”.

Em nossa opinião não há nada que possa legitimar a origem destes topónimos na “família chorro/jorro”, não só pela difícil evolução -rr- > -r-, mas também porque aquelas onomatopeias do castelhano só entraram no português na segunda metade do século XVI.

Bibliografia:
COSTA, Avelino de Jesus da; VENTURA, Leontina; VELOSO, M. Teresa (eds.) (1977-1979) – Livro Preto da Sé de Coimbra. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra. 3 vol. Citados por LP-1, LP-2 e LP-3.
EGU – Enciclopedia Galega Universal. Ed. de Bieito Ledo Cabido. Vigo: Ir Indo Edicións, 1999-2006. 16 vol. ISBN 84-7680-288-9.
FERNANDES, A. de Almeida (1999) –
Toponímia Portuguesa: Exame a um dicionário. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense. 251 p. ISBN 972-9474-09-5.
FERNANDES, A. de Almeida; SILVA, Filomeno (1995) –
Toponímia Arouquense. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense. 576 p. ISBN 972-9474-13-3. Vide p. 72-73, s.v. “Chorio”.
HUBER, Joseph (1986) –
Gramática do Português Antigo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. XV, 417 p.
LIVRO PRETO da Sé de Coimbra. (1977-1979) Ed. de COSTA, Avelino de Jesus da; VENTURA, Leontina; VELOSO, M. Teresa. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra. 3 vol. Citados como LP-1, LP-2 e LP-3.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como contribuição, que não sei se será algo deslocada face aos topónimos aqui estudados, acrescento "Chorosa", povoação antiga da freguesia de Febres, concelho de Cantanhede.

Um abraço

Gundibaldo