domingo, 7 de janeiro de 2007

Aradas: nomes que enganam (1)

ARADAS é freguesia do concelho de Aveiro, com parte da sua área já integrada no centro urbano da cidade dos canais. A marca do plural resultou do casamento de duas povoações medievais, a "Arada de Baixo" e a "Arada de Cima", a villa de Erada de jusana et de susana, na letra da inquirição de Afonso II, datada de 1220, povoados que integraram o pequeno concelho medieval.
A "vilam quae vocatur Heerada" foi doada em 1131 ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, pelo seu proprietário João Mides (Madaíl, 1959: 24). A pequena importância do lugarejo ressalta da carta de foro que o novo senhor concedeu em 1181 aos "hominibus nostris de Erada", no qual, em meia dúzia de linhas, se alinhavam os foros a pagar: um oitavo da produção de cereais, vinho, linho, cebolas, alhos e legumes produzidos em terras arroteadas de novo (Idem: 33-34).

Uma leitura apriorística deste topónimo, partindo da sua forma actual, levar-nos-ia de imediato ao plural neutro do latim arata "campos cultivados", quando é certo que o significado original desta denominação pretende dizer precisamente o contrário.
Esta convicção advém dos diferentes registos recolhidos, nos quais, ao longo dos séculos XII e XIII, sobressaem as formas Heerada (1131), Erada (1181, 1188, 1201, 1220) e Aarada (1202), com o moderno "Arada" a espreitar, pela primeira vez, no dealbar do século XIV.
Considerando estes registos, parece-nos evidente que a origem do topónimo "Arada" residirá no latim hedera‑ "hera", com a derivação sufixal em ‑ada, a designar a noção colectiva. "Arada(s)" seria então um vasto campo de mato, onde predominaria a "hera", nome vulgar de certas ervas vivazes (Glechoma hederácea) e de arbustos trepadores (Hedera canariensis).
Da evolução da fala Heerada, depois das quedas do h- inicial e do -d- intervocálico, acompanhadas da crase do hiato -ee-/-aa-, terá resultado o topónimo "Arada", cujo significado, na língua vernácula, corresponderia ao resultado natural do arroteamento destes campos que, cultivados, se ajustariam ao novo crisma. Com efeito, perante a documentação disponível, o arroteamento das terras desta freguesia terá ocorrido a partir dos finais do século XII, considerando o reduzido cânon com que nessa altura a entidade senhorial onerou os foreiros. Se a terra já estivesse desbravada e cultivada, por certo outro galo cantaria, e de cocorocó bem mais robusto.

Para além de Arada e Aradas, bastante frequentes em Portugal, há ainda outros topónimos que derivam do latim hedera- "hera", como (Barranco do) Edreiro, Edral, Edrosa e Edroso, com os sufixos -eiro, -al e -oso(a), no distrito de Bragança, em que, tal como na Galiza, não houve queda do -d- intervocálico, mas síncope do segundo -e-. Com dupla sufixação, encontramos Aradeira(s) (-ada + -eira) e Aradelas (-ada + -ela) em Vila Real, Aradiça (-ada + -iça) em Braga e Aradinha(s) (-ada + -inha) nos distritos de Leiria e Castelo Branco.
O topónimo ocorre também na Galiza, sob as formas Arada, Aradas, Aradiça, Edreira, Hedreira(s), Hedreiro(s), Hedrosa e Hedroso.

Bibliografia:
MADAÍL, António G. da Rocha (org.) (1959) — Colectânea de Documentos Históricos. Aveiro: Câmara Municipal. XVII, 330 p.

1 comentário:

cneirac disse...

Uma achega emprestada sobre fitotoponímia na faixa meridional da Galiza.