terça-feira, 22 de maio de 2007

Aido e Eido: o mesmo étimo.

A voz “eido”, do latim aditu-, “entrada para um edifício ou um lugar”, designa um quinteiro ou quintal junto a uma casa, uma pequena propriedade, anexa à casa principal da exploração agrícola, geralmente ocupada com pomar ou plantas hortícolas.
A evolução aditu- > "aido" > “eido” resultou da queda do -d- intervocálico e da sonorização -t- > -d-. Em português coexistem as formas “aido” e “eido”, o que não acontece em galego, onde apenas encontramos a segunda.
A permanência do ditongo /ai/, que no galego-português evolui para /ei/, poderá explicar-se por assentamentos moçárabes, cujos falares conservaram os ditongo /ai/ e /au/ (Lapesa, 1991: 176).
No concelho de Aveiro, é notável a propagação da voz “aido”, na microtoponímia e como apelativo, designando uma “pequena propriedade junto à casa”, tanto mais que nunca aqui encontramos a fala “eido”, forma muito mais prolífica no galaico-português e a única presente na toponímia galega, se exceptuarmos as duas ocorrências de O Aido na província da Corunha.

Portugal, concelho de Aveiro (são todos microtopónimos; entre parênteses as respectivas freguesias):
Aidinho (Requeixo), Aido de Baixo (Eirol), Aido do Bicho (Nariz), Aido do Carocho (Requeixo), Aido de Cima (Nariz), Aido do Cosme (Requeixo), Aido do Couteiro (Aradas), Aido do Entrudo (Eixo), Aido da Fonte (Cacia), Aido do Garrido (Aradas), Aido da Igreja (Eirol), Aido do Machinho (Cacia), Aido do Marco (Oliveirinha), Aido Maria Morais (Eirol), Aido do Padre (Nariz), Aido do Pereira (Nariz), Aido da Poça (Eirol), Aido do Queirós (Aradas), Aido do Remédio (Oliveirinha), Aido do Roque (Oliveirinha), Aido do Silva (Glória), Aido(s) da Velha (Nariz), Aido Velho (Eirol), Aidos (Esgueira, Nariz, Oliveirinha, Requeixo e Vera Cruz), Aidos de Azurva (Esgueira), Aidos da Capela (Esgueira), Aidos de Cilha (Nariz), Aidos de Cima (Requeixo), Aidos do Porto de Ílhavo (Nariz), Aidos da Torre (Cacia), Aidos de Verba (Nariz), Aidos da Vessada (Nariz), Cabeço dos Aidos (Aradas), Cabo dos Aidos (Aradas), Castro dos Aidos (Oliveirinha), Lavouras de Trás-dos-Aidos (Oliveirinha), Serrado de Trás-dos-Aidos (Aradas), Trás-dos-Aidos (Aradas, Eixo, Glória, Oliveirinha e Requeixo).

Portugal (ocorrências registadas na Carta Militar 1:25 000; entre parênteses os respectivos concelhos):
Aido (concelhos de Barcelos, Castelo de Paiva, Cinfães e São Pedro do Sul), Aido d'Além (Albergaria-a-Velha), Aido de Baixo (Vale de Cambra), Aido de Cima (São Pedro do Sul), Aidos (Trofa e Vila Nova de Gaia), Azenha do Aido (Estarreja), Cabeço do Aido (Cantanhede), Chã do Aido (Cinfães), Quinta do Aido (Marco de Canaveses).
Baixo do Eido
(concelho de Ponte de Lima), Cabo do Eido (Arcos de Valdevez), Casa Abrigo da Pena do Eido (Ponte da Barca), Costa do Eido (Ponte da Barca), Eido [concelhos de Amarante (4), Amares, Arcos de Valdevez (2), Baião (2), Barcelos (4), Braga (2), Castro Daire (2), Celorico de Bastos (3), Felgueiras (2), Guimarães (4), Lamego, Mesão Frio, Monção, Ponte da Barca (2), Ponte de Lima, Vila Real e Vizela], Eido de Baixo [Barcelos, Fafe, Felgueiras, Ponte de Lima (2), Vieira do Minho], Eido de Cima (Amarante, Barcelos, Ponte de Lima, Valença), Eido do Marzagão (Braga), Eido Novo (Valença), Eido Velho (Ponte de Lima), Eidos [Barcelos (2), Felgueiras, Fornos de Algodres, Guimarães (3), Marco de Canavezes, Vila Verde (2)], Entre o Eido (Paredes de Coura), Quinta do Eido (Lousada), Ribeira do Eido (Vila Real), Vale do Eido (Guarda).

Galiza (ocorrências registadas no Nomenclátor de Galicia)
O Aido (paróquia de Rois, concelho de Rois, Corunha), O Aido (paróquia de Luou, concelho de Teo, Corunha);
Eido de Lamas, Eido de Ribeira, Eidobispo, Eidos, Eidos de Limia, Eidos de Riba, Eidos Vellos, Entreeidos, O Eido, O Eido da Tendeira, O Eido de Abaixo (2), O Eido de Arriba (3), O Eido de Baixo, O Eido de Caneiras, O Eido do Crego, O Eido do Macho, O Eido do Monte, O Eido Fernández, O Eido Gonzalo, O Eido Vello (5), O Medio do Eido, O Val do Eido, Os Eidos (8), Os Eidos de Abaixo (4), Os Eidos de Arriba (2), Os Eidos do Medio, Riba do Eido, Viso dos Eidos.

bibliografia:
LAPESA, Rafael (1991) – Historia de la lengua Española. Prólogo de Ramón Menéndez Pidal. 9ª ed. corrig. e aum; 7ª reimp. Madrid: Editorial Gredos. 690 p. (Biblioteca Románica Hispánica/Manuales; nº 45). ISBN 84-249-0072-3.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Agra, Agrela, Agrinha, Agro, Agrelo, Agrinho. Do latim hispânico à toponímia.

“Agra” provém de “agro” e este do étimo latino agru- (acusativo do substantivo masculino ager, agri), que designava o “campo” ou a “terra cultivada”, mas também “o campo em oposição à cidade”. A voz destes topónimos, na forma simples ─ “agra” e/ou “agro” ─, continua viva em português e galego.
Em português, o substantivo “agro” é apelativo para “terreno cultivado ou potencialmente cultivável, campo”, o mesmo se podendo dizer de “agra”, que já aparece no
Nobiliário do conde D. Pedro como sinónimo da forma masculina, a designar uma “terra lavradia”.
No galego temos igualmente o substantivo masculino “agro”, designando uma “
extensión de terreo cultivable, pequeno e da propiedade dunha soa persoa”, enquanto o feminino “agra” é apelativo para “conxunto de parcelas de labradío pertencentes a varios propietarios e pechadas por un valado común
A marca do feminino dever-se-á, porventura, à atracção de “terra”, de que temos um registo no microtopónimo “Terras das Agras”, na freguesia de Nariz, concelho de Aveiro. Um comentário de Orlando Ribeiro, inserido numa caracterização da economia antiga do Noroeste hispânico, e referido a este apelativo, parece dar razão a esta hipótese:
Os cereais eram todos de sequeiro e exigiam terras enxutas (agras), onde se cultivavam alternadamente espécies de Inverno ─ trigo, centeio, cevada ─ e de Verão ─ milho alvo e painço (Ribeiro, 1986: 111-112).
Na Galiza as "agras" constituíram uma forma de organização agrária, havendo pelo menos duas em cada aldeia, uma para cada folha de cultivo. Eram amplos terrenos de cultivo, principalmente de cereais, que, embora delimitados no seu conjunto, estavam divididos em parcelas abertas. Estes campos galegos tinham, nalguns casos, outras denominações, como veiga, vilar ou estivo (Villares, 1991: 27), e eram os usos colectivos que regiam o ritmo dos respectivos trabalhos, e determinavam o tipo e a alternância de cultivos (EGU, vol. 1, p. 217).
No Norte de África encontramos a voz berbere
aghrum, com o significado de “pão”, coincidente com a forma latina, mas por certo um empréstimo desta língua, considerando o largo período de presença romana em toda esta zona.
Para Joseph Piel (1989: 56), arcaísmos e galego-minhotismos como
agro, agra, agrela, conservados na toponímia, identificam-se com o latim-hispânico falado na Galécia, ainda durante a época romana, província que já então ganhara foros de especificidade, face à latinidade de outras regiões da península.

Portugal, concelho de Aveiro (são quase todos microtopónimos; entre parênteses a respectiva freguesia): Agra (Aradas; Cacia; Esgueira, Glória), Agra dos Andoeiros (Esgueira), Agra de Aradas (Aradas), Agra de Baixo (Aradas), Agra de Cacia (Cacia), Agra de Cima (Cacia; Esgueira), Agra do Couto (Glória), Agra do Crasto (Aradas), Agra de Dentro (Cacia), Agra de Esgueira (Esgueira), Agra do Facho (Esgueira), Agra de Fora (Esgueira), Agra dos Frades (Glória), Agra Grande (Esgueira), Agra Grande das Ribas (Esgueira), Agra dos Judeus (Glória), Agra de Mariola (Esgueira), Agra do Meio (Cacia), Agra Moreira (Esgueira), Agra do Norte (Cacia), Agra Nova (Cacia), Agra do Paço (Esgueira), Agra da Pedra de Moura (Aradas), Agra Pequena (Esgueira), Agra das Ribas (Esgueira), Agra das Roçadas (Esgueira), Agra de Sá (Vera Cruz), Agra de São Tomás (Glória), Agra dos Selões (Cacia), Agra de Verdemilho (Aradas), Agra de Vilarinho (Cacia), Agras (Taboeira, freguesia de Esgueira), Agrinha(s) (Glória), Agro (Eixo; Esgueira; Requeixo), Chão da Agra (Cacia), Portal da Agra (Esgueira), Rua da Agra (Cacia), Terras das Agras (Nariz), Viela da Agra (Aradas; Esgueira), Vinha da Agra (Cacia).

Portugal (ocorrências registadas na Carta Militar 1:25.000):
Agra (47), Agra Boa, Agra da Apúlia, Agra da Pedra, Agra de Além, Agra de Alvar, Agra de Baixo, Agra de Bouças, Agra de Cima (2), Agra de Friope, Agra de Ordins, Agra de Sol, Agra do Barreiro, Agra do Crasto, Agra do Matinho, Agra Maior (2), Agra do Monte, Agra Nova (2), Agras (30), Agras de Cidai, Agras de Oliveira, Agras do Rio, Agrelas (35), Agrelo (21), Agrelo de Baixo, Agrelo de Cima, Agrelos (17), Agres (4), Agria (2), Agriboa, Agricha, Agrichouso, Agriela, Agrinha (4), Agro (13), Agro de Baixo, Agro do Monte, Agro Velho (3), Agroal (2), Agrobom, Agrochão (4), Agrochão de Além, Agrochão de Cima, Agrolongo, Agropilheiras, Agros (5), Agrosso, Agrovelho, Agruela, Carreira de Agra, Casa das Agras, Casa de Agra, Casa do Agro, Casal da Agreireira, Casal do Agrão, Chão de Agrela, Chão de Agro, Costa da Agrela, Costa do Agrancho, Couto do Agro, Cruz de Agra, Fraga de Agrelos, Lomba dos Agros, Pedra do Agro, Poço do Agro, Ponte de Agrela, Portela do Agro, Porto de Agra, Porto de Agre, Quinta da Agra, Quinta do Agrinho, Regato de Agras, Ribeira de Agrebom, Ribeira dos Agros, Ribeiro da Agrela, Ribeiro de Agrebom (2), Rio Agro (2), Rio de Agrela, Serra da Agrela, Tapada dos Agrões, Vale Agreiro, Vale da Agrela, Vale de Agrelo, Vale de Agrozelo.

Galiza (ocorrências registadas no Nomenclátor de Galicia):
A Agra (11), A Agra Boa, A Agra da Pedra, A Agra das Arcas, A Agra das Breas, A Agra de Abaixo, A Agra de Pares, A Agra de Samosteiro, A Agra de Vales, A Agra do Fondo, A Agra do Mero, A Agramuíña, A Agraxoiba, A Agrela (13), A Agrela de San Vicente, A Agriña (2), A Cruz de Agrelo, A Fonte da Agra, As Agras (2), Agra (7), Agra de Abaixo, Agra de Arriba, Agra do Regueiro, Agra Pequena, Agrafoxo, Agramaior, Agramar, Agramonte (2), Agranzón, Agravil, Agrazán, Agreimonde, Agrela, Agrelo (6), Agrelos (2), Agrexán, Agris (3), Agro da Cuña, Agro do Chao, Agro do Monte, Agrochail, Agrochao (2), Agrochouso, Agrocovo, Agrodosío, Agroi, Agrolento, Agrolongo (2), Agromaior (4), Agrón, Agronovo, Agros Chaos, Agrosagro, Agrosantiño, Agrovello (2), Agroxoi, Agruchave, Agrufeixe, Agruñá, Anllóns de Tras dos Agros, Arriba do Agro, As Agrolazas, Casal de Agra, Campo da Agra, Montaña de Agra, O Agrande, O Agrelo (2), O Agriño (8), O Agro (7), O Agro da Area, O Agro da Moa, O Agro de Quinta, O Agro do Mestre, O Agro do Pobre, O Agro do Santo, O Chan da Agra, O Cimo da Agra, Os Agriños, Os Agros (3), Os Agros da Vila, Penadagra, Santalla de Agrón, Tras da Agra (2), Tras do Agro.

Bibliografia:
EGU – Enciclopédia Galega Universal. Vigo: Ir Indo, 1999-2006. 16 vol.
PIEL, Joseph-Maria (1989) – Estudos de linguística histórica galego-portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989. 282 p. (Estudos Gerais/Série Universitária).
RIBEIRO, Orlando (1986) – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: esboço de relações geográficas. 4ª ed. rev. e ampl. Lisboa: Livraria Sá da Costa. 189 p. (Nova Universidade; nº 13)
VILLARES, Ramón (1991) – História da Galiza. Lisboa: Livros Horizonte. 181 p. (Horizonte Histórico; nº 38). Tradução de “Historia de Galicia”, Madrid, Alianza Editorial. ISBN 972-24-0812-7.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mártires da Liberdade (2): efemérides

Como dissemos numa postagem anterior, em 16 de Maio de 1828 começou em Aveiro uma revolução liberal, com fortes ligações ao Porto, que pretendia pôr fim ao golpe absolutista de D. Miguel. A tomada de posição do Porto estava prevista para o dia 17, mas, acontecimentos imprevistos, levaram à antecipação para o dia 16.
Na preparação desta revolução destacaram-se os membros da maçonaria local, nomeadamente os elementos da loja maçónica que funcionou em Aveiro, nas instalações da Quinta dos Santos Mártires (junto à capela homónima, na actual Baixa de Santo António), bem como a maior parte dos oficiais do Batalhão de Caçadores 10.


Neste breve apontamento, destacamos: o desembargador Joaquim José de Queirós (avô de Eça de Queirós); o desembargador Francisco José Gravito da Veiga e Lima; o corregedor da comarca Francisco António de Abreu e Lima; Luís Cipriano Coelho de Magalhães, médico e pai de José Estêvão; João dos Santos Resende, negociante e vice-cônsul da Suécia e Noruega, cuja mercearia (na Praça do Comércio, actual Praça Joaquim de Melo Freitas) era um dos pontos de encontro dos constitucionalistas locais; Manuel da Cruz Maia, sacerdote e farmacêutico, com farmácia na Rua Larga (actual Rua de José Estêvão), outro ponto de encontro dos constitucionalistas aveirenses mais radicais; Custódio José Duarte e Silva, quartel-mestre das milícias de Aveiro; Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, fiscal do contrato do tabaco; Manuel Coelho de Moura, capitão reformado; Vicente José de Almeida, capitão de veteranos; os irmãos José e João Henriques Ferreira; o coronel José Júlio de Carvalho, comandante de Caçadores 10; Manuel Maria da Rocha Colmieiro, tenente-coronel de milícias; os irmãos Morais Sarmento (Clemente, Evaristo, João António, António Joaquim e Jerónimo); João de Sousa Pizarro, capitão de Caçadores 10; e dezenas de outros nomes identificados pelo historiador e aveirólogo Marques Gomes (1928, passim).
Entretanto, em Coimbra, alguns filhos de Aveiro alistaram-se no Batalhão Académico, como foi o caso de Manuel José Mendes Leite (3º ano de Leis), Francisco António Resende (4º ano de Medicina), Francisco José de Oliveira Queirós (2º ano de Matemática e Filosofia), Manuel Ribeiro Dias Guimarães (Filosofia Racional e Moral) e José Estêvão Coelho de Magalhães (1º ano de Leis).

A direcção dos trabalhos que levaram a esta revolução coube ao desembargador Joaquim José de Queirós, que viria a integrar a Junta do Porto. A grande maioria dos chefes políticos e militares das forças liberais não se mostraram à altura das suas responsabilidades, condenando este movimento ao fracasso. Restou a fuga, cobarde nuns casos, corajosa noutros, o homizio e o exílio. Fuga cobarde dos elementos da Junta que abandonaram tudo e todos para embarcarem no navio Belfast, em direcção a Inglaterra; fuga corajosa dos chefes militares e de alguns políticos, como o Conselheiro Queirós, que optaram por acompanhar as tropas desmoralizadas, sob péssimas condições meteorológicas, atravessando toda a Galiza, para embarcarem nas costas do Cantábrico, em direcção aos miseráveis barracões que os aguardavam em Plymouth. O exílio ou o homizio duraria até 1832, quando as forças liberais, comandadas por Pedro IV (o imperador Pedro I do Brasil) desembarcaram na Praia de Arnosa do Pampelido, perto do Mindelo, para, passados dois anos de feroz guerra civil, controlarem o País e reinstaurarem o Liberalismo.

Toponímia urbana aveirense:

Foi grande o impacto destes acontecimentos na vida social e política da cidade de Aveiro, o que claramente transparece na respectiva toponímia urbana, se considerarmos o elevado número de arruamentos cujo nome está ligado ao período histórico que vai da Revolução de 1820 à Regeneração. Deixamos aqui o registo desses topónimos:

Rua do Batalhão de Caçadores 10 (antiga Rua da Corredoura), na freguesia da Glória, começa na Praça do General Humberto Delgado e termina na Praça do Milenário. O Batalhão de Caçadores 10, que esteve aquartelado no Convento de São Domingos (de que só resta a actual Sé), foi a primeira unidade militar a manifestar-se pela causa liberal, aquando dos acontecimentos de 1828.

Beco do Batalhão de Caçadores 10, à entrada da rua anterior.

Rua do Capitão João de Sousa Pizarro, na freguesia da Glória, começa na Rua de 31 de Janeiro e termina na Avenida de Artur Ravara. Capitão de Caçadores 10, morreu em 1828, nos combates da Cruz de Morouços.

Praça 14 de Julho, na freguesia da Vera Cruz, começa no Largo da Apresentação e termina na confluência da Rua dos Mercadores e da Rua de Domingos Carrancho. Data alusiva à Tomada da Bastilha, é dia nacional da França.

Rua de Clemente Melo Soares de Freitas, na freguesia da Glória, começa no Cais dos Moliceiros e termina na Rua da Liberdade. Clemente da Silva Melo Soares de Freitas era advogado em Aveiro; na sequência da revolução, a Junta do Porto nomeou-o juiz de fora na Vila da Feira; foi um dos justiçados na forca, em 7 de Maio de 1829.

Largo do Conselheiro Queirós, na freguesia da Glória, Bairro do Alboi, na confluência da Rua Dezasseis de Maio com a Rua Clemente de Melo Soares de Freitas. Joaquim José de Queirós e Almeida foi chefe do movimento liberal de 16 de Maio de 1828, conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, ministro da Justiça.

Rua do Conselheiro Queirós, na freguesia de Aradas, em Verdemilho. Arruamento onde fica a antiga casa (Quinta da Torre), hoje em ruínas, do Conselheiro Queirós. Daqui saía todas as tardes, montado numa jumentinha, em direcção ao estabelecimento de João dos Santos Resende, ponto de encontro e de cavaqueira política dos liberais constitucionalistas.

Rua de 16 de Maio, na freguesia da Glória, começa no Cais do Alboi e termina na Rua de Magalhães Serrão. Lembra a data do início da revolução de 1828, em Aveiro e no Porto.

Rua de Domingos Carrancho, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça de Joaquim de Melo Freitas e termina na Praça de Catorze de Julho. Domingos dos Santos Barbosa Maia, “O Carrancho” (alcunha que lhe veio por ser proprietário de umas terras de cultivo denominadas as “Carranchas”, em Verdemilho. Domingos Maia esteve envolvido nos acontecimentos de 16 de Maio e teve de exilar-se para fugir à perseguição miguelista. Foi tesoureiro da Alfândega de Aveiro, chefe cartista local e presidente da Câmara de 1842 a 1845, período em que trouxe para a cidade a iluminação pública e muitos outros melhoramentos.

Rua do Gravito (antiga Rua de São Paulo), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de Manuel Firmino e termina na Rua do Carmo. Francisco Manuel Gravito foi fidalgo da casa real, cavaleiro professo da ordem de Cristo, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, corregedor do cível da corte, deputado e conselheiro de Estado por nomeação de D. Pedro IV, datada de 1827.

Rua de João Henriques Ferreira, na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de D. Jorge de Lencastre e termina na Rua do Dr. António Cristo. João Henriques Ferreira Júnior era um jovem liberal residente em Albergaria-a-Velha, que se alistou no Batalhão de Voluntários D. Pedro IV, formado em Aveiro aquando dos acontecimentos de 1828. Entrou em combate contra os miguelistas entre A-dos-Ferreiros e Talhadas. Tendo fugido para a Galiza, regressou a Aveiro onde acabou por ser preso. Foi enforcado no Porto em 9 de Outubro de 1829.

Rua de José Estêvão (antiga Rua Larga, no troço superior; Largo das Tripas, no troço central; Viela do Açougue ou Rua de Trás dos Mercadores, no troço inicial), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua Viana do Castelo e termina na confluência da Rua António Cristo com a Rua de Manuel Firmino. José Estêvão Coelho de Magalhães participou nos acontecimentos de 16 de Maio, integrando o Batalhão Académico, exilou-se em Inglaterra e dali seguiu para os Açores. Acompanhou depois as tropas de D. Pedro IV, que desembarcaram no Mindelo, destacando-se nos combates do cerco do Porto (1832-1833). Até à sua morte, em 1862, teve uma agitada vida política, sempre na primeira linha da luta pelos ideais da Liberdade.

Rua de Luís Cipriano, na freguesia da Glória, começa na Rua do Batalhão dos Caçadores 10 e termina na Rua de Gustavo Ferreira de Pinto Basto. Luís Cipriano Coelho de Magalhães era médico e pai de José Estêvão; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires e liberal constitucionalista. Teve de homiziar-se na sequência dos acontecimentos do 16 de Maio de 1828.

Rua de Luís Gomes de Carvalho, na freguesia da Vera Cruz, começa na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho e termina na Rua do Almirante Cândido dos Reis. Coronel de engenharia e encarregado das obras da barra de Aveiro; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires, em Aveiro, e teve aqui um papel de destaque aquando da revolução de 1820, sendo um dos principais chefes do liberalismo local. Morreu em 1826.

Rua de Magalhães Serrão, freguesia da Glória, começa na Rua dos Santos Mártires e termina na Rua da Arrochela. Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, nasceu em 1774 em Figueiró dos Vinhos. Residia em Aveiro onde desempenhava as funções de fiscal real do contrato do tabaco. Foi um dos principais dirigentes da revolução, tendo sido preso quando se deslocava de barco na Ria de Aveiro, levando consigo muitos documentos que o incriminavam e vinte e cinco armas carregadas, que pertenciam ao batalhão de voluntários que comandava.

Rua de Manuel Luís Nogueira, (antiga Rua do Norte), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de São Bartolomeu e termina no Cais de São Roque. Nasceu em 14 de Março de 1774 na freguesia de Baltar. Era bacharel em Direito e exercia a profissão de advogado no Porto, quando o governo liberal revolucionário (Junta do Porto) o nomeou juiz de fora em Aveiro, lugar de que tomou posse em 4 de Junho de 1828.

Travessa da Maria da Fonte, na freguesia de Esgueira, começa na Travessa da Patuleia e termina na Rua Vicente de Almeida d'Eça. Lembra a Revolução da Maria da Fonte, em Abril de 1846, contra a política dos Cabrais.

Rua de Mendes Leite, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça de 14 de Julho e termina na Praça de Jaime de Magalhães Lima. Manuel José Mendes Leite integrou o Batalhão Académico em 1826 e 1828. Foi um dos exilados em Inglaterra, tendo acompanhado sempre o seu grande amigo José Estêvão. Foi jornalista, parlamentar e governador civil de Aveiro em três períodos distintos, desempenhando ainda outros cargos de natureza política. Em 10 de Março de 1852 apresentou uma proposta de adenda ao parágrafo 18 do artigo 145 da Carta Constitucional, em que se acabava com a pena de morte por crimes políticos; a proposta foi aprovada e entrou em vigor no dia 5 de Junho do mesmo ano, aquando da promulgação do Acto Adicional à Carta Constitucional de 1826.

Travessa da Patuleia, na freguesia de Esgueira, começa na Rua Adriano Serra e termina na Rua de Dias Cainarim. Lembra as sublevações populares, que tiveram lugar um pouco por todo o País, na continuação dos acontecimentos ligados à rebelião da Maria da Fonte.

Rua do Sargento Clemente Morais (antiga Rua do Sol), na freguesia da Vera Cruz, começa no Largo da Apresentação e termina na Rua de Antónia Rodrigues. Foi um dos justiçados na forca, em 9 de Outubro de 1829, pela sua participação nos acontecimentos do 16 de Maio de 1828.

bibliografia:
GOMES, Marques — Aveiro berço da Liberdade: A revolução de 16 de Maio de 1828. Aveiro: [Câmara Municipal], 1928. 88 p.


sexta-feira, 11 de maio de 2007

Achas para um enredo. A propósito do feriado municipal de Aveiro (12 de Maio)

Infanta D. Joana
(Museu de Aveiro: óleo sobre madeira de anónimo português; 60 x 40; c. 1475)

Tem Aveiro dois beatos de peso, um e outro canonizados na rua, mas não na Igreja Católica. Um, “São” Gonçalinho, é obra popular, de construção beira-marense, com dança dos mancos dentro da capela, e bodo de cavacas, atiradas do alto da mesma, com força de abrir cabeças; outro, “Santa” Joana, beatificada pela Igreja e canonizada pelo clero local, num trabalho de sapa que recua ao século XVI e se prolonga nos nossos dias.
Esta nossa beata, padroeira da cidade, com direito a culto local, e só local, entrou em Aveiro anunciada por um cometa, tal qual o menino de Belém, secou o pomar do mosteiro com a simples passagem do seu féretro, e ainda veio do outro mundo para dois dedos de conversa com as freiras mais chegadas (Dias, 1987: fl. 34v-35v; 82v; 85v-87v).
O dia 12 de Maio, data da sua morte, foi arvorado em feriado municipal, substituindo o dia 16 de Maio, em que se lembravam os mártires da Liberdade, vítimas dos algozes a soldo do absolutismo miguelista, e a revolução liberal iniciada em Aveiro.
Para meditação dos crentes e não-crentes, nesta data de sossego municipal, este ano ao serviço do patronato, já que ocorre num fim de semana, deixamos dois documentos e algumas datas, o princípio de um enredo que merecia alguns fólios de ficção. Bem hajam!


Documento 1:


Capítulo CLXVIII da Crónica de D. Afonso V
«De como a Infanta Dona Joana filha de El-Rei foi metida no Mosteiro de Odivelas; e daí ao Mosteiro de Aveiro, e doutras coisas que El-Rei fez.

A Infanta Dona Joana filha de El-Rei estava a este tempo em Lisboa, com tão grande casa de donas e donzelas e oficiais como se fora rainha; e porque fazia sem necessidade grandes despesas, e assim por se evitarem alguns escândalos e prejuízos que em sua casa, por não ser casada, se podiam seguir, El-Rei por concelho que sobre isso teve, logo no mês de Outubro deste ano a apartou e em hábito secular, e com poucos servidores a pôs no Mosteiro de Odivelas em poder da Senhora Dona Filipa sua tia, em idade de 18 anos. Donde foi depois mudada para o Mosteiro de Jesus de Aveiro. Onde sem casar com nome de honesta e mui virtuosa, acabou depois sua vida em idade de trinta e seis anos. E neste ano faleceu o Papa Paulo, e sucedeu em Roma, na cadeira de S. Pedro, o Papa Sixto IV, a quem El-Rei mandou com sua obediência Lopo de Almeida» (Pina, 1904: vol. 3, p. 68).


Documento 2:

1493 Dezembro, 30.
Carta de D. João II proibindo que morassem em Aveiro pessoas poderosas, a fim de os seus habitantes, na maioria pescadores e mareantes, não serem prejudicados [Actualizou-se a grafia].
Museu Regional de Aveiro, Livro dos Registos da Câmara da Vila de Avewo, do séc. XVII, fl. 20, v.
D. João, por graça de deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África, senhor da Guiné. A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que considerando nós como a maior parte da gente que vive em a nossa vila de Aveiro são mareantes e pescadores, e assim doutras pessoas que ganham suas vidas fora de suas casas, pelo qual sendo a vila do infante D. Pedro meu avô que Deus haja, havendo respeito a ela se poder melhor povoar, lhe deu privilégio que nenhumas pessoas poderosas, assim homens como mulheres, viessem viver e morar na dita vila. E se eles quisessem fazer o contrário mandava aos juízes dela que lho não consentissem. E ora os moradores da dita vila nos enviaram pedir que por quanto se eles receavam de as ditas pessoas virem viver a ela que lhes quiséssemos dar tal privilégio por que posto que eles a ela quisessem vir morar lho não consentissem. E nós, vendo o que nos assim requeriam ser razão havendo respeito querermos a dita vila ser melhor povoada do que ora é, e assim por outras razões que nos a isso moveram, e querendo-lhe fazer graça e mercê, temos por bem e queremos que daqui em diante nenhuma das ditas pessoas poderosas, assim homens como mulheres, não vivam nem morem na dita vila, não tolhendo porém os sobreditos quando forem de caminho pousarem na dita vila e estarem em ela até quatro dias, os quais acabados se partirão logo dela e não estejam aí mais.
E porém mandamos ao nosso corregedor em a dita comarca, e aos juízes da dita vila e a quaisquer outros nossos juízes e oficiais e pessoas a que o conhecimento disto pertencer esta nossa carta for mostrada que não consintam aos sobreditos estar mais em ela que o tempo aqui por nós limitado. E cumpram e façam em tudo cumprir e guardar esta nossa carta como se em ela contém sem lhe nisso ser posto outra dúvida nem embargo algum porque assim é nossa mercê.
Dada em a nossa vila de Santarém a trinta dias do mês de Dezembro. Vicente Pires a fez, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quatrocentos [e] noventa [e] três (Madaíl, 1959: 242-243).


Factos e datas:


D. Afonso V
, rei (1432-1481).

D. Joana, princesa (1452-1490): filha de D. Afonso V; irmã de D. João II; entrou no mosteiro de Jesus, em Aveiro, em 4/8/1472; deixou-o em Setembro de 1479, por causa de uma epidemia, regressando em 12 de Agosto do ano seguinte; depois da morte de D. Afonso V (28/8/1481), recebeu em Aveiro o sobrinho Jorge, reconhecido como filho bastardo do irmão D. João II e de D. Ana de Mendonça, dama de D. Joana, a segunda mulher de seu pai, o rei Afonso V; senhora de Aveiro, por carta de seu irmão D. João II, datada de 19 de Agosto de 1485.

Rui de Pina
, autor da Crónica de D. Afonso V (1440-1522).

D. João II
, rei (1455-1495): filho de D. Afonso V; irmão da infanta Joana.

D. Jorge de Lencastre
(1481-1550): filho de D. João II e de D. Ana de Mendonça, dama de D. Joana, a segunda mulher de D. Afonso V; duque de Coimbra; marquês de Torres Novas; senhor de Aveiro; senhor de Montemor; mestre da Ordem de Avis; mestre da Ordem de Santiago; foi criado em Aveiro, no mosteiro de Jesus, por sua tia D. Joana, passando para a Corte depois da morte desta.


Bibliografia:
DIAS, Nicolau (1987) — Vida da Sereníssima princesa Dona Joana filha d'El-Rei Dom Afonso o Quinto de Portugal. Aveiro: Diocese de Aveiro. [16], [xvi] p., 88 fl. Edição fac-similada da 1ª edição de 1585.
MADAÍL, António Gomes da Rocha (ed.) (1959) — Milenário de Aveiro. Colectânea de Documentos Históricos. Vol. 1, 959-1516. Aveiro: Câmara Municipal. XVII, 330 p.
PINA, Rui de (1904) — Chronica de El-Rey D. Affonso V. Introd. G. Pereira. Lisboa: [s.n.]. 3 vol. [Vol. 1: 159 p.; vol. 2: 160 p.; vol. 3: 152, XIV p.] (Biblioteca de clássicos portugueses).

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Semana da Cultura Galega em Lisboa: Portugalizando

Entre os dias 11 a 19 de Maio, decorrerá em Lisboa a Semana da Cultura Galega Portugalizando.

PORTUGALIZANDO. SEMANA DE CULTURA GALEGA EM LISBOA

Nos dias 11 a 19 de Maio, decorrerá em Lisboa a Semana da Cultura Galega Portugalizando. Organizada pela Cátedra de Estudos Galegos da Universidade de Lisboa, o Centro de Estudos Galegos da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da mesma Universidade e a Dirección Xeral de Creación e Difusión Cultural da Consellaría de Cultura e Deporte da Xunta de Galicia. Este programa ainda conta com o apoio da Secretaría Xeral de Política Lingüística, da Secretaría Xeral de Emigración, ambas da Xunta da Galiza e da Juventude da Galiza- Centro Galego de Lisboa. Esta semana, agendada em torno do Dia das Letras Galegas (17 de Maio), abarcará diversas vertentes da cultura galega contemporânea.
A iniciativa afigura-se da maior relevância para a divulgação da cultura galega contemporânea, e para o estreitamento das relações culturais entre Lisboa e a Galiza, povo que tanto contribuiu para a identidade da capital portuguesa.

Ver aqui

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Mártires da Liberdade (1): efemérides

Aos "Mártires da Liberdade" de 1829 (desenho de Lima de Freitas)

Na sequência do golpe de estado de D. Miguel de Março de 1828, que restaurava a monarquia absoluta, as forças liberais responderam com a revolução de 16 de Maio desse mesmo ano, iniciada em Aveiro e no Porto e com ramificações noutras cidades e vilas do país. O governo miguelista reagiu violentamente a esta revolta, perseguindo e prendendo muitos dos liberais que não conseguiram fugir ou exilar-se.
Entre as centenas de vítimas do absolutismo miguelista contam-se os quatro cidadãos residentes no distrito de Aveiro, condenados à morte em 9 de Abril de 1829 e enforcados e decapitados na Praça Nova do Porto, no dia 7 do mês seguinte.
Por ordem da Alçada do Porto, as cabeças foram depois pregadas em postes e expostas em diferentes pontos de Aveiro (3) e Vila da Feira (a de Clemente de Melo).

Foram eles:

Francisco Manuel Gravito da Veiga Lima, nasceu em 1776 em Lisboa, filho do desembargador Francisco António Gravito, que fixou residência em Aveiro no ano de 1780, por ter sido nomeado superintendente das obras da barra. Francisco Manuel Gravito foi fidalgo da casa real, cavaleiro professo da ordem de Cristo, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, corregedor do cível da corte, deputado e conselheiro de Estado por nomeação de D. Pedro IV, datada de 1827. Foi na sua casa, na rua de Jesus, que tiveram lugar algumas das reuniões preparatórias da revolução.

Manuel Luís Nogueira, nasceu em 14 de Março de 1774 na freguesia de Baltar. Era bacharel em Direito e exercia a profissão de advogado no Porto, quando o governo liberal revolucionário (Junta do Porto) o nomeou juiz de fora em Aveiro, lugar de que tomou posse em 4 de Junho de 1828.

Clemente de Melo Soares de Freitas, nasceu em Angeja em 1802, mas residia desde muito novo em Aveiro, com toda a sua família. Depois da revolução tomou posse como juiz de fora na Vila da Feira, por nomeação da Junta do Porto que confirmava uma outra do governo da infanta D. Isabel Maria. Em Vila da Feira teve um papel fundamental em prol da revolução e das orientações emanadas da Junta do Porto.

Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, nasceu em 1774 em Figueiró dos Vinhos. Residia em Aveiro onde desempenhava as funções de fiscal real do contrato do tabaco. Foi um dos principais dirigentes da revolução, tendo sido preso quando se deslocava de barco na Ria de Aveiro, levando consigo muitos documentos que o incriminavam e vinte e cinco armas carregadas, que pertenciam ao batalhão de voluntários que comandava.

A toponímia urbana de Aveiro recorda estes defensores da liberdade em outros tantos arruamentos:

Rua do Gravito (antiga Rua de São Paulo), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de Manuel Firmino e termina na Rua do Carmo;
Rua de Manuel Luís Nogueira (antiga Rua do Norte), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de São Bartolomeu e termina no Cais de São Roque;
Rua de Clemente Melo Soares de Freitas, na freguesia da Glória, começa no Cais dos Moliceiros e termina na Rua da Liberdade;
Rua de Magalhães Serrão, freguesia da Glória, começa na Rua dos Santos Mártires e termina na Rua da Arrochela.

bibliografia:
GOMES, Marques — Aveiro berço da Liberdade: A revolução de 16 de Maio de 1828. Aveiro: [Câmara Municipal], 1928. 88 p.

sábado, 5 de maio de 2007

Toponímia de Vila Nova de Gaia (1): Gaia

O território em que se inscreve o actual concelho de Vila Nova de Gaia sobressai pelas roupagens toponímicas com que veste os seus povoados, rios, montes, vales e tantos outros acidentes geográficos que o homem nomeia, para que a sua pequenez se não perca na vasteza terrestre que o acolhe.
Por isso, qualquer levantamento toponímico da região, mesmo que circunscrito a um pequeno corpus, com algumas dezenas de topónimos, mostra, desde logo, um povoamento milenar e complexo, dificilmente avaliável em toda a sua riqueza cultural, considerando a profundidade das raízes que, aqui e ali, se deixam entrever.
No que se refere à sede do concelho, parece que hoje ninguém duvida da impossibilidade fonética de fazer nascer "Gaia" de "Cale", o que nos obriga a procurar outros caminhos.

Almeida Fernandes pretende encontrar Gaia num documento controverso, datado de 922, já referido na nossa primeira postagem, apresentando a leitura "[…]
et inde per montem a termino de Colimbrianos usque in Galia" (GEPB, vol. 35, p. 671b). Desta Galia teria nascido a nossa Gaia, por queda do -l- intervocálico. Mas, como já afirmámos na postagem atrás referida, o documento em questão poderá corresponder a uma cópia deturpada e com interpolações, como parece resultar da leitura dos editores do Livro Preto da Sé de Coimbra, que leram Gal e não Galia na passagem transcrita (ver aqui, quinto e último texto em destaque).
Na
Chronica Gottorum, no item referente a 1140, era MCLXXVIII (era de César ou era Hispânica), encontramos uma referência a Gaia, sob a grafia Gaye (por Gayae, genitivo):
Eodem quoque tempore venerunt quedam naves exinsperato de partibus Galliarum, plene armatis viris votum habentes ire in Jerusalem, cumque venissent ad Portum Gaye & intrassent Dorium (…) [Inesperadamente, nessa mesma altura, também chegaram alguns navios provenientes das Gálias, cheios de homens armados que tinham feito voto de ir a Jerusalém. E como tivessem vindo ao porto de Gaia e tivessem entrado no Douro (…)](Pimenta, 1982: 35).
No século XIII eram dois os principais povoados da margem esquerda da foz do Douro: Gaia, o mais importante em termos económicos, e o chamado Burgo Velho, historicamente mais antigo, mas com uma vida económica que orbitava em torno do primeiro. Gaia recebeu foral em 1255, no reinado de D. Afonso III, aparecendo nomeada neste documento, mais de duas dezenas de vezes, com a grafia Gaya ou Villa de Gaya.
Em 1288 será a vez de D. Dinis conceder carta de foral ao
Burgo Velho, nos termos do foral de Gaia, ao mesmo tempo que mudava o nome da povoação para Vila Nova de Rei:
loco qui consuevit vocari Burgum vetus, cui imponimus de novo nomem villa nova de Rey" [lugar que era costume chamar-se Burgo Velho, ao qual impomos o novo nome de Vila Nova de Rei].
Ainda no mesmo século, num documento do mosteiro de Grijó, datado de 1264 e referido a Oliveira do Douro, pode ler-se: "hereditatem que est in parrochia ecclesie de Ulveira in ripa Dorii, justa castellum de Gaia" (Durand, 1971: 277).
Quanto a nós, quando falamos de
Vila de Gaia, estamos perante uma formação toponímica típica da Reconquista, perante uma perífrase em que a preposição de antecede o nome do possessor da villa. Considerando a origem do antropónimo, é provável que a datação do topónimo recue ao início do século VIII, na sequência das primeiras apropriações feitas pelos conquistadores muçulmanos. Com efeito, esquecemo-nos com demasiada frequência que as tropas muçulmanas, que invadiram a Península em 711, eram constituídas essencialmente por forças berberes, as quais, após a conquista e a distribuição de terras, foram empurradas pelas chefias para o Noroeste peninsular, enquanto árabes, egípcios e sírios ficavam com os territórios mais ricos e integrados nos percursos da economia mediterrânea. Gaya é, ainda hoje, um antropónimo masculino amazigue, que também podemos encontrar no distrito de Faro, sob a forma composta Benagaia (povoação da freguesia de Pêra, concelho de Silves), isto é, "filho de Gaia" (cf. Teres, 1990: 150-151).
"Gaia", na forma simples, derivada ou composta,
encontra-se em muitos outros topónimos, um pouco por todo o país, mas, na grande maioria dos casos, serão topónimos relativamente recentes e relacionados com os actuais apelidos Gaia, Gaião, Gaio e Gaioso.

Bibliografia:
DURAND, Robert (ed.) (1971) — Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XIe-XIIIe siècles).
Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português. LV, 330 p. (Fontes Documentais Portuguesas; 2).
[FERNANDES, A. de Almeida] — Vila Nova de Gaia. In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
. Lisboa-Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia. Vol. 35, p. 662-682. Obra citada pelas iniciais GEPB.
FORAES DE VILLA-NOVA, E GAYA impressos por ordem da Ill.ma Camara Constitucional
. Porto: Typ. De Viuva Alvarez Ribeiro, 1823. [3], 34, [4] p.
PIMENTA, Alfredo, ed. (1982) — Fontes Medievais da História de Portugal
. Volume I, Anais e Crónicas. 2ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa. XXXII, 335 p. (Colecção Clássicos Sá da Costa).
TERÉS, Elias (1990) — Antroponimia hispanoárabe (Reflejada por las fuentes latino-romances). Ed. Jorge Aguadé, Carmen Barceló y Federico Corriente. Anaquel de estudios árabes. Madrid: Universidad Complutense.
Nº 1 (1990), p. 129-186.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Já me esquecia: é um de Maio. Viva!
Mário Sacramento, Diário, p. 246