terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Para: Calidonia e António Rafael Carvalho

Agradeço-lhes encarecidamente o incentivo. Espero continuar a merecê-lo. Peço desculpa do atraso na resposta, mas só hoje (30/01) descobri os comentários. Estou a aprender a mexer-me no ciberespaço, pelos vistos muito devagar, pois ando por cá desde o início de Dezembro passado e só hoje descobri onde aparecem os avisos dos comentários.
Um grande abraço.
Ao Calidonia o meu muito obrigado pelo "agasallo".

LEIRA, uma irmã celta do "chão" latino

"Apesar das dificuldades semânticas e fonéticas", como expressamente se diz no Houaiss, quase todos os dicionaristas apontam o latim glarea, ae "terreno com muito cascalho, areal, cascalho, saibro, areia grossa" como o étimo de "leira". O dicionário de Houaiss vai mais longe, considerando-o um vocábulo panromânico e aduzindo exemplos da sua presença em línguas como o romeno (ghiaja), o engadino (glera), o friulano (glerya), o provençal (glaira), o aragonês (glera) e o espanhol (glera). Mas, quando tentamos comprovar a legitimidade destas conclusões, esbarramos com o significado dos casos apresentados, todos de acordo com o étimo latino, mas nenhum a aproximar-se do português "leira", entendido como "pequeno campo cultivado".
As dificuldades centram-se nos aspectos semânticos, suficientes para os lexicógrafos falarem de uma "origem controversa" para o nosso "leira", já que, se os problemas fossem apenas de cariz fonético, teríamos alguns precedentes para a queda do g- inicial integrado no grupo consonântico gl-, como é o caso do latim glande-, que deu o português "glande", mas também "lande" (Nunes, 1989: 96). Convém no entanto sublinhar que este fenómeno apenas surge documentado a partir do século XV, enquanto para "leira" temos já larea em 870, laria em 921 e a forma actual em 984, sem que nos apareça a presença do g- inicial a firmar a suposição do étimo latino glarea-. Compulsando o Liber Fidei da Sé de Braga, um importante cartulário com documentos do século VI a XIII, encontraremos dezenas de referências a este apelativo, principalmente sob as formas larea e laria.
O que dissemos para o português "leira" é igualmente válido para o galego leira "terreo de labranza; porción de térreo cultivado", também no masculino leiro "leira pequena" e nos derivados leirada "anaco de monte de boa calidade" e leirado "cantidade en froito que produce unha leira".
Este nome comum deu lugar a vários topónimos em Portugal e na Galiza, com raras ocorrências a sul do Vouga e grande concentração a norte do Douro. Em Portugal encontramos principalmente as formas Leira e Leiras, isoladas ou integradas em expressões toponímicas, mas também Leirada, Leiradas, Leiradelo, Leirados, Leiro, Leiros e Leirós.
Na Galiza aparecem as formas Leira e Leiras, com e sem artigo, isoladas ou em expressões toponímicas, Leirado, com e sem artigo, Leiro e Os Leiros, representando mais de quatro dezenas de lugares, dez paróquias e dois concelhos.
Considerando os limites geográficos da presença destas vozes, inclinamo-nos para uma fala céltica, galaico-lusitana, porventura com alguma passagem pelo antigo germânico, no caso o Suevo, onde chegaremos por aproximação, pois desconhecemos as realizações da sua língua. Para o superestrato germânico, apontamos os exemplos do dinamarquês ler "argila", do islandês leir "lama, barro, argila" e leira "área lamacenta, periodicamente inundada, ao longo das margens dos rios e dos lagos", sueco lera "húmus; argila" e norueguês leir "campo".
No que respeita ao substrato, importa salientar que, para "chão, campo, terreno", o céltico responde com as vozes do gaélico escocês làr, irlandês e irlandês antigo lar, galês llawr, córnico antigo lor, bretão antigo laur e bretão leur.
A raiz indo-europeia plā- "largo, extenso, aberto; alargar, alargar-se", donde derivam todas as formas célticas enunciadas, é a mesma do latim planus, a, um "plano, liso, igual", étimo do adjectivo português "chão", com o mesmo sentido, que, em evolução semântica, substantivou nos dois géneros — "chão" e "chã" — e veio a significar "pequena propriedade".

Bibliografia:
BEAUMONT — Dictionnaire Freelang : Suédois-Français et Français-Suédois. Descarregável em linha, no endereço
FORGEOT Eric; BEAUMONT [et al.] — Dictionnaire Freelang : Norvégien-Français et Français-Norvégien. Descarregável em linha, no endereço
LEDO CABIDO, Bieito (ed.) [1999-2006] — Enciclopedia Galega Universal. Vigo: Ir Indo Edicións. 16 vol. ISBN 84-7680-288-9. Vd. vol. 11, p. 126-128.
NUNES, José Joaquim (1989) – Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa: Fonética e morfologia. 9ª ed. Lisboa: Clássica Editora. XVI-454 p. ISBN 972-561-172-1.
UNITED STATES Geological Survey — Icelandic-English Glossary of Selected Geoscience Terms. Em linha, no endereço: http://pubs.usgs.gov/of/1995/of95-807/geoicelandic.html#glossary
VANDERPOTTE, Philippe; BEAUMONT — Dictionnaire Freelang : Danois-Français et Français-Danois. Descarregável em linha, no endereço

Tomada, Tomadia e o verbo "tomar"

Detectámos três dezenas de ocorrências dos topónimos Tomada, Tomadas e Tomadinha, quase todas a Norte do rio Douro, mas a inclusão de Tomadia e Tomadias (13 ocorrências) desloca aquela fronteira para o rio Vouga.
Na Galiza, identificámos sete ocorrências A Tomada (nas paróquias de Borreiros, O Caramiñal, Lesón, Figueiró, Taborda, Navia, Saiáns), duas As Tomadas (nas paróquias de Chandebrito e A Ramallosa) e uma Tomade (na paróquia de A Torre), com a terminação -e a indiciar influência moçarábica.
Numa primeira abordagem, podemos identificar a área de predomínio desta toponímia com o território que viu nascer os falares galaico-portugueses e que, séculos antes, correspondeu ao reino germânico dos Suevos.

Estamos perante agrotopónimos referentes a arroteias que recuam, pelo menos, à Idade Média. Com efeito, no foral manuelino de Ílhavo (1514) o termo "tomadas" refere-se aos arroteamentos feitos em terrenos maninhos, exprimindo o sentido de acto ou efeito de tomar ou de se apoderar de alguma coisa:
«E os maninhos em Jlheuo [Ílhavo] toma os quem quer com o foro da terra [...] porem [...] se nam tomaram os dictos maninhos sem primeiro serem Justificados nas camaras dos comçelhos se sam nas saida e logramentos doutros cassaes […]: E Aalem do foro da terra que dos dictos maninhos se paguara paguar se am soomente das cassas que nouamente se fizerem nas dictas tomadas a que chamam cabanarias [...]» (Madaíl, 1959: 266).
O mesmo sentido, de acto ou efeito de tomar, é dado à voz "tomadias", título de uma das verbas do foral manuelino de Eixo e Requeixo (1516), mas aqui referido às exacções senhoriais na apropriação ilegítima de corveias ou produtos da terra (Madaíl, 1959: 309). É nesta acepção que encontramos o registo desta fala no Elucidário de Viterbo:
«Direito de tomar mantimentos, roupas, etc., sem pagar a seus donos cousa alguma, que abusivamente se praticava entre os senhorios e os seus vassalos ou colonos» (vol. 2, p. 611).
"Tomada", substantivação do feminino do particípio passado do verbo "tomar", e o seu derivado "tomadia", por junção do sufixo ‑ia, designando a acção ou o seu efeito, são duas falas ainda vivas na nossa língua.
O verbo "tomar", nos seus diferentes significados, deverá responder ao cruzamento de origens célticas e germânicas. Nas línguas célticas destacamos as vozes gaélicas tomhas — "lida, labuta, faina, trabalho difícil, trabalho duro", mas também "significado, significação, sentido, acepção, ideia, intenção, propósito" — e tomh, "oferta, oferecimento, acção de oferecer, aquilo que se oferece", como igualmente "tentativa, esforço, ataque", ou ainda "ameaçar, proferir ameaças, pôr em perigo, avisar, prenunciar, pressagiar, estar iminente". Quanto às línguas germânicas, assinalamos o extinto gótico tamjan "amansar, domar, domesticar, subjugar, abater, submeter" e, no faroense e islandês, as duas línguas mais próximas dos primitivos falares germânicos, a fala temja "amansar, domar, domesticar, controlar".
Perante o manancial semântico destas vozes, duas gaélicas e duas germânicas, parece-nos possível a substituição da fórmula «origem duvidosa», encontrada na maior parte dos nossos dicionários para ilustrar a etimologia de "tomar".

Bibliografia:
MADAÍL, António Gomes da Rocha, ed. (1959) — Milenário de Aveiro: Colectânea de documentos históricos I (959-1516). Aveiro: Câmara Municipal. 330 p.
SANTA ROSA DE VITERBO, Joaquim de (1983-) – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram... 2ª ed. crítica por Mário Fiúza. Porto: Livraria Civilização, 1983-1984. 2 vol.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Eixo: quase único em Portugal

Em Portugal, as ocorrências do topónimo Eixo ficam quase reduzidas à vila e freguesia do concelho de Aveiro. No aro desta freguesia encontramos também os microtopónimos Fonte de Eixo, Campo(s) de Eixo, nas margens do rio Vouga, Feira de Eixo, um espaço aberto, hoje já bastante urbanizado, integrando parte da chamada Serra de Eixo ou Monte de Eixo, onde, desde Outubro de 1855, "no dia 3 de cada mês" se realizava uma feira de gado vacum e suíno (Leal, 1874: vol. 3, p.13). Na vizinha freguesia de Eirol existiu "Mato de Eixo" e, na freguesia de Oliveirinha, "Quintãs de Eixo", nomes recolhidos do livro das matrizes do concelho, organizadas nos anos 20 do século passado (Rodrigues & Barreira, 1994: 184, 188). Na freguesia de Esgueira, em documento de 1446, assinalamos os topónimos "Carreira de Eixo", "Caminho do Porto de Eixo", "Azenha do Porto de Eixo" e "Porto de Eixo" (Silva, 1994: 272-314), entretanto já desaparecidos.
O significado de "campo" e "monte", no caso concreto da vila de Eixo, empoleirada na margem esquerda do Vouga, perto da respectiva foz, é-nos dado por um memorialista da terra. O povo, falando do território da freguesia, distingue três zonas, a que chama campo, seca e monte: o campo é o terreno de aluvião, sujeito às inundações do Vouga; a seca, "de natureza sílico-argilo-calcárea", é constituída pelas terras de semeadura não atingidas pelas inundações; o monte corresponde à zona argilosa, reservada a mato e pinheiro, actualmente substituído pelo eucalipto (Magalhães, 1960: 248).
Para além destas ocorrências do concelho de Aveiro, apenas detectámos um Casal do Vale de Eixo, no concelho de Cadaval, e um Vale do Eixo no concelho de Meda.
Na Galiza encontrámos Eixán, um lugar da paróquia de Astureses, no concelho de Boborás; O Eixo, nome de três lugares, um na paróquia de San Román de Vilaestrofe, no concelho de Cervo, outro na de Cordido, concelho da Foz, e o terceiro na de Fazouro, do mesmo concelho da Foz; com o mesmo nome temos também uma paróquia no concelho de Santiago de Compostela; O Eixo de Abaixo e O Eixo de Arriba, são dois lugares da referida paróquia de O Eixo do concelho de Santiago; Eixón corresponde a uma paróquia da invocação de San Xurxo, no concelho de A Pobra do Brollón, na província de Lugo; Valeixe, que parece ser a aglutinação de "Vale de Eixe", dá o nome a uma paróquia do concelho de A Cañiza, na província de Pontevedra. Por último, temos a Serra do Eixe, um alinhamento montanhoso da comarca de Valdeorras.

O topónimo Eixo apresenta algumas dificuldades de interpretação, devido às várias hipóteses credíveis, algumas a remontarem ao período pré-romano. Joaquim da Silveira e Joseph Piel consideram-no um antropotopónimo, apon­tando-lhe, no entanto, origens diferentes. Piel, que devia desconhecer a interpretação de Silveira, desenvolvida sob o pseudónimo de Th. Ramires (vd. Magalhães, 1960: 258), pretende fundar o topónimo Eixo nos nomes supostos de *Ascila ou *Ascilu, a partir do nome Asco bastante atestado, mas a explicação parece não agradar tão pouco ao autor, que des­taca o seu percurso forçado (Piel, 1937-1945: 84-85), no que estamos de acordo, já que nos parece muito precoce a queda do -l- intervocálico.
Para Silveira, Eixo derivaria do antropónimo Ascius (Ramires, 1904), hipótese foneticamente possível, e interpretação a considerar.
Por nós, consideramos igualmente a possibilidade de uma origem no antropónimo Arcius, que aparece com frequência nas regiões celtas da Península, na forma simples ou derivada, não havendo qualquer testemunho fora da Hispânia (Palomar Lapesa, 1957: 39 e 41). Mas também consideramos provável uma origem no antropónimo latino Axius que, sendo pouco vulgar na Península, explicaria o pequeno número de topónimos a ele ligados.
A possível evolução dos antropónimos atrás apontados, por Joseph Piel, Joaquim da Silveira e por nós próprios, exige, desde logo, uma explicação prévia, no que se refere ao latim ‑ci‑, pois só perante ela se poderão justificar os passos posteriores. Como afirma Silva Neto

é dos mais importantes o tratamento de c e g antes de e e de i. Desde antes do período histórico do latim as guturais antes das vogais citadas não eram sons velares, mas pré-palatais pronunciados très en avant. Com efeito, a fonética histórica do latim evidencia que c e g impediram a passagem de e para o em casos como: scelus, gelu, celsus, etc. (1992: 202-203).

Pelo que fica dito, percebe-se como o latim ‑ci‑ já soava próximo de /chi/, o que seria mais notório quando antecedido de outra fricativa sibilante, como era o caso do s, o que levaria, no português antigo, à respectiva assimilação, num som que podíamos representar por /ssi/ e que, entre vogais, passava a ‑ix‑ /ich/, fenómeno presente na passagem do latim passione- ao português "paixão" (Huber, 1986: 120), explicando-se a hipótese de Joaquim Silveira pela sucessão Asciu- > *Ascio > *Assio > *Aixo > "Eixo".
O mesmo aconteceria com Arciu-, pois ‑rs‑ passava a ‑ss‑ por assimilação, como se patenteia em aversu, que deu "avesso" ou em ursu, de que resultou osso ou usso "urso" no português antigo (Idem: 145), pelo que, neste caso, a evolução seria quase idêntica à anterior: Arcius > *Arcio > *Assio > *Aixo > "Eixo". E outro tanto poderemos afirmar para Axiu-, cuja evolução daria Eixo, como o latim area- deu "eira".
É para este último antropónimo que nos inclinamos, mesmo tendo em conta a tardia ditongação da primeira sílaba de Eixo, apenas registada no final do século XII — Exso (1050), Exu (1081), Exo (1095), Hexo (1182), Eyxo (1183)—, pois esse atraso poderá firmar-se num possível superestrato, considerando os antropónimos hispano-árabes e moçárabes encontrados entre possessores locais, e também porque língua escrita e língua falada são realidades diferentes, podendo os testemunhos da primeira não coincidir com a segunda.
Mas haverá outras hipóteses a considerar, como seja uma origem na voz céltica exe "água" (Walter, 1996: 362), ou no vasco etxe "casa" (Goikoetxea, 2002: 167). A explicação, para a origem de Eixo (Exo), não ofereceria aqui qualquer dificuldade fonética e a presença de substratos pré-romanos na microtoponímia da zona, como o arcaísmo "Arrujo" ou "Balsa", favoreceriam estas hipóteses. Neste caso, a ditongação da primeira sílaba poderia explicar-se por etimologia popular, expressa através da atracção paronímica do apelativo "eixo".
A probabilidade ibero-basca, apresentada em segundo lugar, é tanto mais credível quanto sabemos ser a "casa" a uni­dade básica da sociedade vasconça (Entwistle, 1995: 34), equiparando-se ao papel desempenhado no noroeste ibérico pelas realidades expressas nos topónimos Casal, Vilar, Paço ou Quintã, entre outros. Em reforço desta interpretação temos um vale da Cantábria, entendido aqui o termo "vale" como uma unidade sócio-económica de povoamento, denominado Hecho e já documentado em 867. Em 1116 o referido vale de Hecho contava nove villas, uma das quais chamada Ecxo, nomes bem próximos das grafias acima apontadas para o nosso "Eixo" (Diez Herrera, 1993: 6-7; 15). Mas, neste caso, temos duas grafias distintas e coevas, que corresponderão, certamente, a diferentes etimologias.
Estas falas podem, no entanto, ter ainda uma outra origem, se ponderarmos o galês echen "manancial, fonte, nascente", mas também "família, linhagem, tribo" (Nodine, 2003), o que permitiria concluir por uma ocupação celta da região de Eixo, que poderia igualmente abarcar a zona de Aveiro.
Apesar de nos inclinarmos para o antropotopónimo com base no nome latino Axiu-, que corresponderia a uma villa de Axiu-, não queremos deixar de apresentar uma última interpretação, que tem em conta as já referidas formas Exso, Exu, Exo, Hexo e Eyxo, mas também a abundância do topónimo Eiche(n) na Alemanha renana, território ocupado durante séculos pelos chamados germanos ocidentais, entre os quais se contam os Suevos. A confluência destes factores permitem-nos aventar a hipótese de "Eixo" provir do suevo *eich "carvalho", do germânico *aiks (Wahrig, 1997: 392, s.v. Eiche), tendo presentes os fenómenos fonéticos da segunda mutação consonântica da língua alemã, protagonizada precisamente pelos referidos germanos ocidentais. Entre estas mutações, que foram absorvidas pelo alto-alemão, está a evolução da oclusiva forte k para a fricativa constritiva ch, /kch/, quando ocorria no interior das palavras, ou entre vogais, ou no fim da palavra depois de vogal, o que, sendo o caso, legitima a reconstrução *eich atrás apresentada, a qual, entre falantes aloglotas, soaria muito próximo do registo Exso, de 1050, o mais antigo certificado para "Eixo".

Para terminar importa deixar um aviso aos incautos. Corre em letra de imprensa (Gaspar, 1998: 21) uma interpretação absolutamente estapafúrdia, que arruma os trabalhos de Joaquim da Silveira e de Joseph Piel nas "hipóteses etimológicas […] menos eruditas ou mesmo ingénuas" (Idem: p. 23). Convenhamos que é necessária muita lábia, para rotular desta forma dois conceituados linguistas, nomeadamente quando se trata do autor de uma obra que deixa muito a desejar. A obra em questão organiza-se sob a forma de calendário ou anais, fornecendo ao investigador um conjunto de informações importantes, como ponto de partida para trabalhos de história local. Quando o autor pretende fazer história, o que acontece, por exemplo, no primeiro capítulo, e também nalgumas entradas, continua, à semelhança de publicações anteriores, a semear incongruências e erros graves, consequência directa da bibliografia consultada, alguma por demais ultrapassada, mas também de contributos pessoais prejudicados por uma marcada ausência de conhecimentos científicos nesta área do saber.

Bibliografia:
DIEZ HERRERA, Carmen (1993) — El "valle" unidad de organización social del espacio en la Edad Media. Estudos Medievais. Porto: Centro de Estudos Humanísticos. N.º 10 (1993), p. 3-32.
ENTWISTLE, William J. (1995) — Las lenguas de España: Castellano, Catalán, Vasco y Gallego-Portugués. Madrid: Ediciones Istmo. 443 p. (Colección Fundamentos; 30). ISBN 84-7090-018-8.
GASPAR, João Gonçalves — Eixo na história. Eixo: Paróquia de Santo Isidoro, 1998. 346 p. ISBN 972-97845-0-7
Goikoetxea, Jon Akordagoikoetxea (dir.) (2002) — Hiztegi Handia: Castellano-Euskara / Euskara-Gaztelania [Grande Dicionário Castelhano-Vasco / Vasco-Castelhano]. Barcelona: Spes Editorial. X, [4], 547, IV, 481 p. (Vox). ISBN 84-8332-348-6.
HUBER, Joseph (1986) – Gramática do português antigo. Introd. de Luis Lindley Cintra. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 417 p.
LEAL, Augusto Soares d' Azevedo Barbosa de Pinho; FERREIRA, Pedro Augusto (1873-) — Portugal antigo e moderno: diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguesias de Portugal e grande numero de aldeias. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira, 1873-1890. 12 vol.
LOPEZ-MENDIZABAL, Isaac (1976) – Diccionario Vasco-Castellano. 6ª ed. San Sebastian: Editorial Auñamendi. 450 p. (Colección Azkue; 9). ISBN 84-7025-104-X.
MADAÍL, António Gomes da Rocha, ed. (1959) — Milenário de Aveiro: Colectânea de documentos históricos I (959-1516). Aveiro: Câmara Municipal. 330 p.
MAGALHÃES, Carlos Vidal Coelho de (1960) — A antiga vila de Eixo: apontamentos para uma monografia. Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro: Francisco Ferreira Neves. Vol. 26, nº 104 (1960), p. 243-290. Trabalho datado de cerca de 1948.
NODINE, Mark H. (2003) – Welsh to English Lexicon. Dicionário on-line de Galês-Inglês, no endereço: http://www.cs.cf.ac.uk/fun/welsh/LexiconForms.html
PALOMAR LAPESA, Manuel (1957) — La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania: estudio lingüístico. Salamanca: Colegio Trilingüe de la Universidad, 1957. 168 p. (Theses et Stvdia Philologica Salmanticensia; n.º 10).
PIEL, Joseph M. (1937-1945) — Os nomes germânicos na toponímia portuguesa. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos. 220 p., 2 vol. Separata de: Boletim de Filologia, vol. 2 (1933) a vol. 7 (1944).
RAMIRES, Th. [pseudónimo de Joaquim da Silveira], in Correio do Vouga. Eixo. N.º 9 (1 Abril 1904) (apud Magalhães, 1960: 258).
RODRIGUES, Manuel Ferreira; BARREIRA, Manuel — Toponímia do concelho de Aveiro: elementos para o seu estudo. Estudos Aveirenses: Revista do ISCIA. Aveiro: FEDRAV. ISSN 0872-4873. Vol. 3 (1994), p. 167-194.
SILVA, Maria João Branco Marques da (1994) — Esgueira: a vida de uma aldeia do século XV. Cascais: Patrimónia. 344 p. (Dissertações). ISBN 972-744-000-2.
SILVA NETO, Serafim (1992) — História da língua portuguesa. 6ª ed. Rio de Janeiro-Lisboa: Presença/DinaLivro. 670 p. (Colecção Linguagem; 11). ISBN 1-85-252-008-5.
VIEIRA, Venâncio Dias de Figueiredo (1984) — Memória sobre a vila de Eixo. Boletim Municipal de Aveiro. Aveiro: Câmara Municipal. [ISSN 0873-335X]. Nº 3 (Abril 1984), p. 30-64. Memória redigida cerca de 1870.
WALTER, Henriette (1996) — A aventura das línguas do ocidente: a sua origem, a sua história, a sua geografia. Lisboa: Terramar, [1996]. 496 p. ISBN 972-710-137-2.
WAHRIG, Gerhard (1997) — Deutsches Wörterbuch: mit einem, Lexikon der Deustschen Sprachlehre. Gütersloh: Bertelsmann Lexikon Verlag. 1420 p. ISBN 3-577-10677-8.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Mamodeiro, Mamarrosa e outras que tais

Na região de Aveiro existem alguns arqueotopónimos que apontam para o povoamento pré-histórico, um dos quais está absolutamente comprovado, na sequência de prospecção arqueológica de finais do século passado (Silva, 1997). Referimo-nos a "Mama" e "Mamoa", respectivamente do latim mamma- "mama, protuberância em forma de seio feminino, outeiro", e do latim mammula-, diminutivo do anterior, que ocorrem isolados e em expressões toponímicas, nalguns casos com aglutinação dos seus elementos.
Os topónimos em questão aludem a construções funerárias e situam-se nas freguesias orientais do concelho de Aveiro, como são os casos de Mama da Pega (localmente "Madepegas") e Mama Rasa na freguesia de Eixo, Mamoa na de Eirol, outra Mamoa e Mamodeiro na de Nossa Senhora de Fátima e Moita da Mamoa na de Oliveirinha. Com excepção de Mamodeiro, o principal lugar da respectiva freguesia, à qual devia ter dado o nome, considerando a sua importância histórica, todas as outras ocorrências pertencem à microtoponímia.
O topónimo Mamodeiro aparece nas inquirições de D. Dinis de 1287, quando um dos inquiridos nos fala dos "homeens vedros que pobrarom Mamoa do Eyro", isto é, os "homens velhos que povoaram Mamodeiro", identificados no documento como a geração anterior à do respondente, já que o seu sogro Pedro Gonçalves é expressamente incluídos entre eles (Krus, 1993: 134).
É possível que Mamodeiro tenha, nos elementos que o compõem, uma alusão directa à função funerária do monumento que lhe deu origem. Com efeito, talvez o elemento "Eiro" se filie num étimo pré-indo-europeu, com o significado de "morte", se considerarmos que, ainda hoje, a voz basca para "morte" é erio (Lopez-Mendizabal, 1976: 145) ou herio (Goikoetxea, 2002: 241) que, na evolução do galaico-português, daria eiro, em resultado da ditongação proveniente da atracção do -i- pela tónica e-.
As campanhas de escavações, dirigidas por Fernando da Silva neste monumento funerário, mostram o engenho do homem da cultura megalítica que, perante condições geomorfológicas específicas, diferentes da do seu povoamento habitual, nem por isso deixou de adaptar-se e de lhes responder com criatividade. Com efeito, no caso em apreço, não foi a falta de pedra que conseguiu evitar a construção do tumulus de Mamodeiro, referência indispensável para a demarcação do território das comunidades de pastores e agricultores, certamente já hierarquizadas, que, desde o IV milénio a.C. se foram sedentarizando junto das principais vias de penetração, entre as quais se destacavam os rios, ribeiros e respectivos vales, realidade por demais evidente em toda a zona da bacia do Vouga e dos seus afluentes, em cujas margens se multiplicam as mamoas, antas e castros.
A avaliar pelo que foi encontrado em Mamodeiro, apesar das sucessivas violações sofridas, e considerando a quase ausência de pedra na região, reduzida aos arenitos de Aveiro, Requeixo, Eirol e Mamodeiro e aos calcários do Carrajão e Mamarrosa (Teixeira & Zbyszewsky, 1976), o seu monumento funerário não corresponderia a um dólmen, mas antes a uma estrutura apoiada em grande contraforte, construída com recurso a "calhaus rolados de pequenas dimensões, ligados entre si por uma argamassa à base de sedimentos argilosos" (Silva, 1997: 84).
Mamarrosa é um outro topónimo da família, vila desde 2003 e freguesia do concelho de Oliveira do Bairro. O seu monumento funerário já tinha sido destruído em 1020, data de um documento referente à doação das vilas de Levira e de Lázaro ao mosteiro da Vacariça, em que uma das confrontações é descrita como "Ad occidentalem partem, per ubi dicunt mamoa rása ubi est illa heremita que vocitant sancti romani" [A Ocidente, pela chamada Mamoa Rasa, onde está a ermida que chamam de S. Romão] (LP-1: 134). E a mamoa rasa, isto é, arrasada, lá aglutinou em Mamarrasa, para dissimilar na mais poética Mamarrosa.

Havemos de voltar a esta temática, para fazermos o devido enquadramento no espaço nacional e galego. Os que quiserem aprofundar o tema na região do Vouga poderão recorrer, no que se refere a Lafões, ao levantamento, devidamente cartografado, de Amorim Girão (1921); para o curso do Vouga em geral, com possibilidade de enquadramento na realidade nacional ver mapa em Alarcão (1990: 103); para o litoral da região de Aveiro é também possível comparar os dados da microtoponímia com os dados da prospecção arqueológica, através da respectiva cartografia (Silva, 1993: 28-29).

Bibliografia:
ALARCÃO, Jorge, coord. (1990) — Portugal: das origens à romanização. 1ª ed. Lisboa: Editorial Presença. 558 p. (Nova História de Portugal; vol. 1) Dir. col. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques. ISBN 972-23-1313-4.
GIRÃO, A[ristides] de Amorim (1921) — Antiguidades pre-históricas de Lafões. Coimbra: Imprensa da Universidade. 68 p. (Memórias e Notícias; nº 2). Publicações do Museu Mineralógico e Geológico da Universidade.
GOIKOETXEA, Jon Akordagoikoetxea (dir.) (2002) — Hiztegi Handia: Castellano-Euskara / Euskara-Gaztelania [Grande Dicionário Castelhano-Vasco / Vasco-Castelhano]. Barcelona: Spes Editorial. X, [4], 547, IV, 481 p. (Vox). ISBN 84-8332-348-6.
KRUS, Luís (1993) — D. Dinis e a herança dos Sousas: o inquérito régio de 1287. Estudos Medievais. Porto: Centro de Estudos Humanísticos. Nº 10 (1993), p. 119-158. Com dados referentes à inquirição de 1287 nas honras de Eixo e Ois (Julgado do Vouga). O inquérito encontra-se no A.N.T.T., Gaveta VIII, m. 4, nº 12, com cópia em Leitura Nova no Livro 1 de Direitos Reais, fls. 223-231.
LIVRO PRETO DA SÉ DE COIMBRA. (1977-1979) Ed. de COSTA, Avelino de Jesus da; VENTURA, Leontina; VELOSO, M. Teresa. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra. 3 vol. Citados como LP-1, LP-2 e LP-3.
LOPEZ-MENDIZABAL, Isaac (1976) — Diccionario Vasco-Castellano. 6ª ed. San Sebastian: Editorial Auñamendi. 450 p. (Colección Azkue; 9). ISBN 84-7025-104-X.
SILVA, Fernando A. Pereira da (1993) — A mamoa de Mamodeiro: A ocupação do litoral de Aveiro durante a pré-história recente. Boletim Municipal de Aveiro. Aveiro: Câmara Municipal. Nº 22 (Dez. 1993), p. 25-32.
SILVA, Fernando A. Pereira da (1997) — Relatório da campanha de escavações 3/94: Mamoa de Mamodeiro, Nossa Senhora de Fátima, Aveiro. Boletim Municipal Cultura e Património. Aveiro. Número único (Dez. 1997), p. 81-87.
TEIXEIRA, Carlos; ZBYSZEWSKY, Georges (1976) — Carta Geológica de Portugal na escala 1/50.000. Notícia explicativa da folha 16-A: Aveiro. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. 39 p. + 1 carta.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Os Vales de Aveiro

O apelativo "vale", do latim valle- (feminino), é uma das vozes mais produtivas na toponomástica da área do concelho de Aveiro, onde a encontramos sobretudo em expressões toponímicas, ocupando quase sempre a primeira posição, seguida de complemento preposicional que qualifica ou determina a posse. Apesar da baixa altitude média do concelho aveirense, não será de estranhar esta profusão, considerando os numerosos arroios, ribeiros e riachos que, um pouco por toda a parte, caracterizam a paisagem desta zona, escorrendo para as águas da laguna e do Vouga que abraçam o miolo do aro municipal a Leste, Norte e Oeste.
Falar de "vales" é falar de uma antiga realidade económica e sócio-cultural, detectável, em toda a sua pujança, nas serranias do Norte de Portugal, Galiza, Astúrias e Cantábria, prolongando-se pelos Pirinéus. O "vale" tinha a água e a terra de aluvião, indispensável à fixação das populações que aí procuravam o habitat propiciador da actividade agro-pastoril. Estes acidentes orográficos que, nas montanhas do Norte, atingem por vezes grandes dimensões, individualizaram-se socialmente através do assentamento de diferentes subunidades da organização étnica indígena,

[…] ligadas por parentesco real o mítico, que vivían bajo una norma — o codigo consuetudinario — y se autoregían mediante la convocatoria de sus proprias reuniones o asambleas (Diez Herrera, 1993: 10).

Isto mesmo transparecia na zona portuguesa do Gerês, nomeadamente na desaparecida comunidade de Vilarinho da Furna, estudada por Jorge Dias.
Na região de Aveiro estamos perante uma realidade necessariamente diferente, considerando a pequenez da área, embora seja possível identificar idiossincrasias marcadas e específicas, podendo corresponder a individualidades étnicas distintas que, durante a Idade Média, foram em parte respeitadas no enquadramento promovido pelo domínio senhorial e pelo cristianismo.
Os dois poderes, o da terra e o da alma, raramente separados e bastas vezes coabitando, encabeçaram numa "vila" as instituições que entreteceram esses vales numa unidade política e religiosa. O primeiro mostrava-se na casa ou no celeiro senhorial, e nas magistraturas que o representavam, enquanto o segundo se exprimia através da paróquia, da respectiva igreja e do presbítero que a dirigia. A importância deste pequeno mundo ligava-se ao espaço de circulação de pessoas e bens que, nestes tempos recuados, raramente ultrapassava o aro paroquial, mesmo na região do Baixo-Vouga, em que o rio e a laguna possibilitavam uma maior aproximação entre as populações.
Por vezes o poder senhorial violentava esta harmonia primitiva, mas aqui vingava a organização religiosa, a respeitar os contornos culturais das antigas divisões. Em conclusão, podemos afirmar que a vida dos homens medievais, no território do actual concelho de Aveiro, girava politicamente em torno das "vilas" de Aveiro, Esgueira, Eixo e Arada, mas, em termos sociais e culturais, eram as paróquias que dominavam. E aí, para além destas "vilas", teríamos de acrescentar a paróquia de Cacia e, mais tarde, mesmo quando a independência não é completa, as de Eirol, Nariz e Requeixo. Teremos de considerar ainda outros ajustamentos, como, a título de exemplo, a inclusão de Verdemilho (no poder temporal anexo a Ílhavo) na paróquia de Arada, e de Sá (também ligada senhorialmente a Ílhavo) meã das paróquias de Aveiro e de Esgueira.
Em muitos casos estes "vales" integram-se numa bacia hidrográfica secundária, o que os liga entre si, facilitando os contactos, como acontece em Eixo, onde o "Vale da Granja" ramifica com o "Vale do Picoto", o "Vale da Alfândega" com o "Vale do Cabeço Redondo" e com o "Vale do Salgueiro", o "Vale do Suão" com o "Vale das Forcadelas" e o "Vale de Azurva" com o "Vale da Quinta da Velha" (vd. Vieira, 1984: 51). Por vezes estes vales tinham uma pequena dimensão, estando na posse de uma única família e constituindo, em termos económicos, uma unidade agrícola equiparada ao "casal".

Alguns exemplos recolhidos no concelho de Aveiro, com as respectivas freguesias entre parênteses:
Cabeço do Vale (Eirol), Cabeço do Vale de Salgueiro (Eixo), Chousa do Vale Caseiro (Cacia), Encostas do Vale do Rio (Oliveirinha), Quinta do Vale dos Ferreiros (Eixo), Quinta do Vale do Suão (Eixo), Tomadia do Vale da Fontinha (Eirol), Valbum (Esgueira), Valduja (Cacia), Vale (Aradas, Cacia, Eirol, Esgueira, Nariz, Oliveirinha, Requeixo), Vale(s) (Cacia, Esgueira), Vale dos Adobos (Eixo), Vale dos Adros (Eixo), Vale da Aguanada (Requeixo), Vale da Alagoa (Eirol), Vale da Alfândega (Eixo), Vale da Andreza (Requeixo), Vale do António (Nariz), Vale de Arada (Aradas), Vale do Arrujo (Eixo), Vale das Azenhas (Aradas), Vale da Azurva (Eixo), Vale de Baixo (Glória), Vale do Barrêga (Aradas), Vale do Borraçal (Oliveirinha), Vale do Braçal (Eixo), Vale do Braga (Cacia), Vale do Branco (Aradas), Vale da Brogueira (Esgueira), Vale do Bunheiro (Eixo), Vale dos Cabaços (Eixo, Oliveirinha), Vale da Cabana (Requeixo), Vale da Cana (Oliveirinha), Vale da Canisieira (Eixo), Vale do Carvão (Esgueira), Vale do Caseiro (Cacia), Vale do Castanheiro (Requeixo), Vale da Catarina (Eirol), Vale de Cavadas (Eixo), Vale de Cavalos (Requeixo), Vale do Clérigo (Aradas), Vale do Cojo (Vera Cruz), Vale de Colmeias (Esgueira), Vale da Cova (Oliveirinha), Vale do Covo (Cacia), Vale dos Covões (Eirol), Vale Diogo (Oliveirinha), Vale Escuro de Verba (Nariz), Vale de Esgueira (Esgueira), Vale do Ferreiro (Eixo/Requeixo), Vale da Fonte (Eirol, Nariz, Oliveirinha), Vale da Fontela (Oliveirinha?), Vale da Fontinha (Eirol/Eixo, Esgueira), Vale das Fontinhas (Requeixo), Vale do Forro (Nariz), Vale da Galinha (Requeixo), Vale da Gamela (Requeixo), Vale do Godinho (Cacia), Vale Grande (Eirol, Esgueira, Requeixo), Vale da Granja (Oliveirinha), Vale da Horta (Oliveirinha), Vale do Inferno (Eirol), Vale das Janeirinhas (Eixo), Vale de Janeiro (Eixo), Vale de João dos Santos (Aradas), Vale do Junco (Cacia, Nariz), Vale das Ladeiras(os) (Nariz), Vale da Ladra (Requeixo), Vale da Lagoa (Eirol), Vale do Largo (Cacia), Vale da Lavoura (Eirol), Vale da Lebre (Oliveirinha), Vale da Lagoa do Junco (Eixo, Esgueira), Vale da Lenda (Nariz), Vale do Lino (Oliveirinha), Vale da Loba (Requeixo), Vale de Loure (Eixo), Vale da Marinha de Cima (Esgueira), Vale da Marinha de Fundo (Esgueira), Vale de Marinhas (Esgueira), Vale do Marona (Aradas), Vale da Moita (Oliveirinha), Vale da Mula (Nariz), Vale do Olho (Requeixo), Vale do Parrêlo (ou Passêlo?) (Requeixo), Vale do Pato (Requeixo), Vale de Pedras (Esgueira), Vale Pequeno (Eixo), Vale da(o) Pereira (Esgueira), Vale de Pero Giro (Esgueira), Vale do Picanço (Requeixo/N.Sª Fátima), Vale de Pinheiros (Eixo), Vale do Pombo (Oliveirinha), Vale da Quinta (Aradas, Requeixo), Vale da Rama (Nariz, Requeixo), Vale do Ramil (Glória), Vale de Ratinha(s) (Esgueira), Vale do Rato (Nariz), Vale do Rendeiro (Aradas, São Bernardo), Vale de Ribeirinho (Eixo), Vale do Rio (Oliveirinha), Vale Rondeiro (São Bernardo), Vale de Sá (Esgueira), Vale Salgado (Esgueira), Vale de Salgueiro (Eixo), Vale de São Pedro de Aradas (Aradas), Vale do Seixo (Requeixo), Vale das (C)Silhas (Cacia), Vale do Sobreirinho (Oliveirinha), Vale do Suão (Eixo/Requeixo), Vale de Taipa (Eixo), Vale das Tenças (Eirol), Vale dos Tojos (Esgueira), Vale das Tomadias (Eirol), Vale da Valida (N.Sª Fátima), Vale Ventoso (Eixo), Vale da Videira (Eirol), Vale de Vilar (Glória), Valinho (Esgueira, Oliveirinha), Valinhos (Aradas, Nariz, Requeixo).

Bibliografia:
DIAS, Jorge (1981) — Vilarinho da Furna: Uma aldeia comunitária. Nota prelim. e pref. de Orlando Ribeiro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981. 313 p. (Temas Portugueses).
DIEZ HERRERA, Carmen (1993) — El "valle" unidad de organización social del espacio en la Edad Media. Estudos Medievais. Porto: Centro de Estudos Humanísticos. N.º 10 (1993), p. 3-32.
VIEIRA, Venâncio Dias de Figueiredo (1984) — Memória sobre a vila de Eixo. Boletim Municipal de Aveiro. Aveiro: Câmara Municipal. Nº 3 (Abril 1984), p. 30-64. Memória redigida cerca de 1870.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A Ver-o-Mar: com a verdade me enganas!

E é mesmo verdade. De "A Ver-o-Mar", vila (desde 2003) e freguesia do concelho da Póvoa de Varzim, vê-se o mar. E como não havia de ver-se, se ele está ali tão perto, tão à mão de semear? Não o verá o cego, mas, pensando melhor, até esse o verá, mesmo às escuras, no rumorejar das ondas ou no odor das maresias.
O problema não está no mar, que já por lá demorava quando as gentes se instalaram naquela nesga, à sua beira. O problema é que por lá, e alhures, poucos se entendem quando passam o topónimo à escrita. Se não vejamos!
Nas páginas web do INE (Instituto Nacional de Estatística), da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias) e da ANMP (Associação Nacional de Municípios Portugueses) encontramos a grafia "A Ver-o-Mar"; se formos à página da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim deparamos com "Aver-o-Mar" e, no lintel do brasão da freguesia, arrumado no mesmo sítio, lobrigamos a legenda "Vila de A-Ver-o-Mar". Mas, se a pesquisa aproar no Reportório Toponímico de Portugal, teremos direito a outra versão, "Aver o Mar" (Portugal, 1967: v. 1, p. 71), sem hifenização. É caso para vozear: em que ficamos?! E, se o grito for ouvido por algum dos idosos da vila, a resposta virá de imediato: ficamos em "Abremar", que é esse o nome do lugar. A soar ao mesmo, mas de hífen a tiracolo, sob a forma "Abre-Mar", aparece num dicionário corográfico do início do século passado (Pereira & Rodrigues, 1904: vol. 1, p. 21).
Perante a resposta popular, o enigma, criado pela teimosia atarantada dos "eruditos", abre-se à compreensão do estudioso que, no caso em apreço, poderá chegar a conclusões credíveis, pois conta com alguns documentos medievais que atestam o percurso do nome do povoado.
O nosso topónimo aparece num documento de 1099 — a menção mais antiga que conhecemos —, ostentando a qualidade de villa e a grafia "Abonemar" (Costa, 1959: 99). Estamos, por isso, em presença de um topónimo formado a partir do nome do possessor da villa, um antropónimo de origem hispano-árabe, o que não obsta a que fosse um cristão como qualquer outro, porventura descendente de uma família moçárabe do Sul. Para legitimar esta afirmação, bastará percorrer os diplomas do Livro Preto da Sé de Coimbra, onde encontraremos dezenas de nomes de origem árabe, como será o caso de um "Avomar" e de um "Martinus Umariz", respectivamente em documentos datados de 977 (LP-2, p. 173) e 1188 (LP-1, p. 102).
Abonemar será metátese do nome hispano-árabe Abenomar, do árabe Ibn "filho de" + 'Umar, de interpretação duvidosa, mas a que alguns autores atribuem o significado de "o supremo; seguidor do profeta; riqueza". Aben, a primeira parte do nome, uma das variantes hispano-árabes de Ibn, corresponde à parte da estrutura onomástica chamada nasab "genealogia ou descendência", que indica a ideia de filiação e é seguida do nome do pai, podendo repetir-se com o nome do avô, bisavô, etc. Omar será o mesmo que 'Umar, pois o hispano-árabe desconhece a oposição /u/:/o/ (Terés, 1990: 147-148, s.v. 31 'ibn; 1992: 12-13, s.v. 310 'umar). Neste caso concreto, aventamos a hipótese da resolução do hiato (*Abeomar), resultante da queda do -n- intervocálico de Abenomar, ter sido feita através de assimilação com rotacismo (*Abreomar), claramente responsável pela economia de movimentos articulatórios, economia essa que o povo levou mais longe com a síncope do -o- (Abremar).

Abambres, topónimo que identifica uma freguesia do concelho de Mirandela e um lugar da freguesia de Mateus do concelho de Vila Real, tem igualmente origem num antropónimo hispano-árabe, com ocorrências que, nalguns casos, poderão gerar confusão com o referido Abonemar.
Falamos do antropónimo hispano-árabe Abuambre ou Aboambre, do árabe Abu "pai de" + 'Amr "vida", que também ocorre sob as formas Abohamor, Aboamar e que marca presença na toponímia da Península Ibérica (Terés, 1990: 134-136, s.v. 1 ab; 1992: 11, s.v. 306 'amr).
Abu, o primeiro elemento deste antropónimo, corresponde à parte da estrutura onomástica chamada kunía "sobrenome", formada pela partícula de filiação (abu) a que se seguia o nome próprio do primeiro filho varão (não confundir com o nisba "parentesco, aliança, filiação", que era o elemento que indicava a tribo). Como diz Elias Terés, trata-se de "um composto filionímico que podia preceder ou seguir o nome próprio no sistema onomástico árabe antigo. Mas não podemos esquecer que muitas kunías passaram a funcionar como nomes próprios, apodos e inclusive como nomes comuns" (Terés, 1990: 134, n. 1).
Abambres, da freguesia de Mateus, aparece-nos documentado em 1101 como "Avamores" e a qualidade de villa: "in terra de Panonias discurrente rivulo Corrago in villa que vocitant Avamores" (Costa, 1959: vol. 2, p. 262).

Bibliografia:
COSTA, Avelino de Jesus da (1959) — O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 2 vol.
LIVRO PRETO da Sé de Coimbra. (1977-1979) Ed. de COSTA, Avelino de Jesus da; VENTURA, Leontina; VELOSO, M. Teresa. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra. 3 vol. Citados como LP-1, LP-2 e LP-3.
PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme (1904-1915) — Portugal: Diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico [...]. Lisboa: João Romano Torres. 7 vol.
PORTUGAL. Ministério do Exército. Serviço Cartográfico do Exército (1967) — Reportório Toponímico de Portugal: 03 — Continente (Carta 1/25.000). 3 vol.
TERÉS, Elias (1990-1992) — Antroponimia hispanoárabe (Reflejada por las fuentes latino-romances). Ed. Jorge Aguadé, Carmen Barceló y Federico Corriente. Anaquel de estudios árabes. Madrid: Universidad Complutense. Nº 1 (1990), p. 129-186; nº 2 (1991), p. 13-34; nº 3 (1992), p. 11-35. ISSN 1130-3964

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Sarrazola (freguesia de Cacia, Aveiro)

O topónimo "Sarrazola", identificando um lugar da freguesia de Cacia, do concelho de Aveiro, permite mais que uma interpretação, mormente se considerarmos as diferentes formas documentadas historicamente, como "Cerazolla" e "Çerazolla" (1446), "Çarrazola" (1527), "Sarrasolla" (1689) e "Sarrazolla" (1721 e 1732). Ressalta a flutuação -e-/-a- da primeira sílaba, a evolução da constritiva vibrante -r- > -rr-, porventura representando alteração no modo de articulação, com passagem de alveolar a velar, e o duplo -ll-, do último elemento da palavra, responsável pela permanência do fonema que, se fosse um -l- simples, teria caído em posição intervocálica, salvo em área de influência moçárabe.
Uma hipótese a considerar filiaria o topónimo no substrato pré-romano, porventura ibero-vasconço, partindo do actual basco saratz "salgueiro" (Lopez-Mendizabal, 1976: 354) + basco -ola, "sufijo que denota lugar de, conjunto de" (idem: 323), o mesmo é dizer, em português de lei, "salgueiral".
E teríamos o problema resolvido, se este registo toponímico estivesse circunscrito à zona de influência ibérica, onde encontrámos os parentes muito chegados Cerésola (Huesca, Pirinéus espanhois) e Cérizols (Ariège, Sul de França). Mas, ao avançarmos com a pesquisa, deparámos com parentes do mesmo grau no Norte da Itália, como Cerasolo, Ceresola e Cerezzola na "Emilia Romagna", Correzzola em "Véneto", Sarizzola no "Piemonte", Sarezzo e Seriola na "Lombardia". E com esta viagem, à procura da parentela, achámo-nos em pleno assentamento dos Lígures, pelo que abriremos um parênteses, dando voz a Francisco Villar:
El nombre de ese pueblo [los ligures] ha perdurado hasta nuestros días en el de la actual región italiana de Liguria, que comprende, de Este a Oeste, las provincias de La Specia, Génova, Savona e Imperia. Pero en la Antigüedad ocupó zonas mucho más extensas. La colonia griega de Massilia (Marsella) estaba en pleno territorio de los saluvios, una de las tribus ligures. Y a esa gente perteneció todo lo que es hoy la Costa Azul y la Riviera. El territorio ligur se extendia desde la ciudad de Pisa y el río Arno al Este, hasta el Ródano al Oeste. […] En un sentido más amplio, se habla de ligures en toda la costa, también al oeste del Ródano, hasta la desembocadura del Ebro. Y para esta prolongación occidental a veces se habla de ibero-ligures (Villar, 1996: 384).
Perante este quadro, poderíamos continuar a bater na tecla do "salgueiral" igual a "Sarrazola", considerando a fala vasconça um empréstimo directo dos lígures, ou, porventura, por intermédio dos iberos. Não é por acaso que hoje se fala de ibero-basco, quando nos referimos aos parentescos linguísticos destes dois povos, sem que possamos afirmar se se tratava ou não de uma única língua, ou se essas similitudes são o resultado de empréstimos mútuos. De qualquer forma, face aos conhecimentos actuais, não temos possibilidade de atribuir muitas dessas falas a um ou a outro desses dois povos.
E o problema ficaria quase por aqui, se Bartolomeu Conde (1996), procurando as origens remotas da sua terra natal — "Sarrazola" —, não tivesse corrido Ceca e Meca, acabando por receber informações contraditórias, mas, também, no que directamente nos interessa, por descobrir mais uns tantos "Sarrazola" na finisterra atlântica. Desta forma, temos de nos haver com mais uma "Ribeira de Sarrazola" (Alter-do-Chão), numa zona de ocupação romana, bem atestada pela soberba ponte de Vila Formosa, sobre a Ribeira de Seda, na qual desagua a referida Ribeira de Sarrazola [esta ponte servia a antiga via romana que unia Lisboa a Mérida (Proença, 1983b: 433-434)]; uma "Quinta de Sarrazola" (Penhalonga, Marco de Canavezes), em zona castreja, sobre o Douro, com pequeno riacho e salgueiral, no concelho do Marco de Canavezes, em cuja área ficava a antiga "Tongobriga" (Freixo), importante centro urbano do período romano (Alarcão, 1990: 373, 477); um lugar (e quinta) de "Sarrazola" (Colares, Sintra), perto da Ribeira de Colares e junto do seu afluente Ribeiro do Corvo, mais uma vez com um vasto salgueiral e com Colares a apresentar também fortes vestígios de ocupação romana (Proença, 1983a: 554); e outro lugar de "Serrazela" ou "Sarrazela" (Sátão), próximo do Vouga, em zona castreja, com um vale rico em água onde não falta o omnipresente salgueiral; como sabemos, Viseu, que dista cerca de 20 Km do Sátão, foi sede de uma civitas do período romano e um ponto importante de confluência de diferentes vias romanas (Alarcão, 1990: 378-381); muito perto de Sátão, o lugar de Silvã (por certo uma antiga villa Silvana) é um indício toponímico que aponta para a presença romana nestas paragens (GEPB, 27: 784).
Perante este enunciado de topónimos afins, e considerando os elementos fornecidos, constatamos que todos estes lugares têm algo em comum: água, salgueiros e presença romana. Destes pressupostos poderíamos concluir que todos eles são alheios à Hispânia, resultando do assentamento de famílias oriundas do Norte da Itália, realidade por demais documentada para o período da dominação romana, famílias essas que teriam sido responsáveis pela atribuição desta toponomástica. E o mesmo poderia ter acontecido em relação às poucas ocorrências detectadas no resto da Península.
No entanto, considerando a raiz indo-europeia *sar "fluir, discorrer" (Villar, 1996: 96), bem como as falas do sânscrito sarit "ribeira, curso de água, nascente" e saras "água; lago, lagoa" (Huet, 2006: 381, 382) e do trácio sara "corrente, torrente, curso de água" (Babaev & Judicibus, 2002), que nos aparecem nestes topónimos e em centenas de outros por toda a Europa, principalmente em hidrónimos ou em povoados nas margens de cursos de água, teremos de apontar uma outra hipótese que explique o nosso "Sarrazola", ainda Cerazolla no século XV.
A título de exemplo, sirvam-nos as fontes Sora (Langás, Saragoça), Sar (Santa Maria del Campo, Burgos), os arroios Sara (Rodeiro, Pontevedra), Sarrión (Coaña, Astúrias), Sarrón de la Forada (Boñar, Astúrias), Sarave (Bacáicoa, Navarra), a balsa Sarasa (Urdiáin, Navarra), o barranco de Sarnes (Lascurre, Huesca), Sarria (Lugo, que tomou o nome do seu rio: Sarrie em 1074), os rios Sor (Galiza), Sarno (Golfo de Nápoles), Sarre ou Saar (afluente do Reno, em grafia francesa e alemã), Serio (Lombardia), as ribeiras Sor (Alentejo) Ser (Galiza, afluente do Navia) e, com alteração árabe do /s/ inicial, os rios Jarama (Madrid), Jaramillo (Valladolid) e Xarrama (Alentejo). São hidrónimos antiquíssimos, certamente devidos a povos pré-celtas ou paraceltas, das primeiras vagas indo-europeias a chegar ao Ocidente.
Por tudo isto, "Sarrazola" poderá também designar um curso de água, tanto mais de aceitar no território lusitano, quanto sabemos que a sua língua, para além das desinências morfológicas, recorria à ampliação por "un sufijo, y en ocasiones se trata de derivaciones de otros nombres así formados, acumulándose los sufijos". "Sarrazola" podia provir de sar- + -as (desinência do nominativo do singular) + -ola (elemento derivativo -l- precedido da vogal -o- atestado nas línguas célticas (Palomar Lapesa, 1957: 116-117,128).

bibliografia:
ALARCÃO, Jorge, coord. (1990) — Portugal: das origens à romanização. 1ª ed. Lisboa: Editorial Presença. 558 p. (Nova História de Portugal; vol. 1) Dir. col. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques. ISBN 972-23-1313-4.
BABAEV, Cyril; JUDICIBUS, Dario de (2002) — Dizionario generale Tracio. Em linha no endereço http://www.dejudicibus.it/dizionario/index.html.
CONDE, Bartolomeu (1996) — Sarrazola, terra dos salgueiros: apontamentos etimológicos. Aveiro: edição do autor. 62 p.
COSTA, Mário Alberto Nunes — A Provedoria de Esgueira. Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro. Vol. 24, nº 93 (1958), p. 53-80.
GEPB: GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA
HUET, Gérard (2006) – Héritage du Sanscrit: Dictionnaire sanskrit-français. Em linha no endereço http://sanskrit.inria.fr/Dico.pdf
LOPEZ-MENDIZABAL, Isaac (1976) — Diccionario Vasco-Castellano. 6ª ed. San Sebastian: Editorial Auñamendi. 450 p. (Colección Azkue; n.º 9). ISBN 84-7025-104-X.
MADAIL, A. G. da Rocha — Informações paroquiais do distrito de Aveiro de 1721. Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro. Vol. 1, nº 1(1935), p. 37-46; vol. 1, nº 4(1935), p. 325-332; vol. 2, nº 6(1936), p. 151-160; vol. 2, nº 7(1936), p. 237-241; vol. 2, nº 8(1936), p. 293-306; vol. 3, nº 9(1937), p. 29-46; vol. 5, nº 18(1939), p. 139-141; vol. 8, nº 31(1942), p. 192-196.
PALOMAR LAPESA, Manuel (1957) — La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania: estudio lingüístico. Salamanca: Colegio Trilingüe de la Universidad, 1957. 168 p. (Theses et Stvdia Philologica Salmanticensia; n.º 10).
PROENÇA, Raul, ed. (1983a) — Guia de Portugal I. Generalidades. Lisboa e Arredores. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

PROENÇA, Raul, ed. (1983b) — Guia de Portugal II. Estremadura, Alentejo, Algarve. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
RODRIGUES, Manuel Ferreira; BARREIRA, Manuel — Toponímia do concelho de Aveiro: elementos para o seu estudo. Estudos Aveirenses: Revista do ISCIA. Aveiro: FEDRAV. ISSN 0872-4873. Vol. 3 (1994), p. 167-194. Transcreve a toponímia dos Livros de registo das matrizes prediais rústicas e urbanas do concelho de Aveiro, organizados nos anos 20 do século passado.
SILVA, Maria João Branco Marques da (1994) — Esgueira: a vida de uma aldeia do século XV. Cascais: Patrimónia. 344 p. (Dissertações). ISBN 972-744-000-2.
VILLAR, Francisco (1996) — Los Indoeuropeos y los orígenes de Europa: Lenguaje e historia. 2ª ed. corr. e muy aument. Madrid: Editorial Gredos. 614 p. (Manuales). 1ª ed.: 1991. ISBN 84-249-1787-1

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

VERDEMILHO (freguesia de Aradas, concelho de Aveiro)

Entre Aveiro e Ílhavo, na zona em que se inscreve o topónimo "Crasto", encontramos o lugar de "Verdemilho" cuja grafia actual esconde quase tudo o que teria estado na sua origem, passível de ser percebido através da documentação medieval. Respondendo ao inquérito paroquial de 1758, com base no questionário ela­borado pelo Padre Luis Cardoso, o pároco de Ílhavo, João Martins dos Santos, abre caminho à compreensão do topónimo:
dos lugares do Termo que ficam fóra da fregue­zia, o mayor he uerdemilho, que no Foral se chama villa de milho (Madaíl, 1936: 303).
A documentação medieval, nomeadamente a publicada por Madaíl (1959: passim), mostra-nos a evolução deste topónimo, desde Villa de Milio (1166) a "Vila de Milho" (1355), com esta última forma a mostrar-se no "Vilademilho" de 1296. A forma actual do topónimo terá aparecido entre 1527, ainda "Vila de Milho", e 1689, lugar de "Verde­milho".
Antes
de tentarmos explicar o nome deste lugar, para o qual haveria muito mais certezas se pudéssemos contar com a prospecção arqueológica no sítio do Crasto, lem­bramos a existência, cerca de 570, de uma paróquia sueva denominada Milia, nas mar­gens do rio Ave (Fernandes, 1968: 63-64, 76).
A "Villa de Milio",
que subjaz a Verdemilho, poderá ser povoação antiquíssima, se aceitarmos uma primitiva Villa Aemilia cujo antropotopónimo tivesse resistido, nesta zona tão isolada e descentrada, ao aparecimento do caso possessivo em -anus (Villa Aemiliana) e ao genitivo de tipo integral (Villa Emilii) ou elíptico (Emilii) (Piel, 1989: 156).
O
isolamento da zona está bem patente no mapa das paróquias suevas (Fernandes, 1968: 76), total­mente ausentes de todo este litoral, certamente ainda não cristianizado. A única paró­quia registada nas proximidades corresponde a Antuã, havendo incertezas quanto à localização de Insula que, para Almeida Fernandes, se situaria na região da Feira.
Durante
a Reconquista, quando o genitivo deixou de ser usado na linguagem cor­rente, a forma única, que passa a ser utilizada, baseia-se no acusativo, como de resto acontece com os nomes comuns (Piel, 1989: 157-158). A partir daqui temos, para os topónimos deste tipo, a perífrase com a preposição de, e, a Villa Emilia de que falávamos poderia ter dado lugar à *villa de Emilio ou *villa d' Emilio (> vila d’E Milio, a “villa de Milio” de 1166), se a elisão não tivesse acontecido antes, no falar dos íncolas, com a pri­meira sílaba de Emilio a fundir-se na última de vila (*Villemilio > Villa de Milio).

In
CARVALHO, Manuel José Gonçalves de (1999) — Povoamento e vida material no concelho de Aveiro: Apontamentos para um estudo histórico-toponímico. (Tese de Mestrado). Universidade de Aveiro, 1999. 324 p. + CVII p. de anexos. ISBN 972-95014-8-3. p. 275-276.

Bibliografia:
FERNANDES, A. de Almeida (1968) –
Paróquias suevas e dioceses visigóticas. Viana do Castelo: [Arquivo do Alto Minho]. 181 p. Separata de: Arquivo do Alto Minho, vol. 14 a 16. Existe nova edição (1997), publicada em Arouca, pela Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 176 p. e ISBN 972-9474-11-7.
MADAÍL, A. G. da
Rocha (1936) – Informações paroquiais do distrito de Aveiro de 1721. Arquivo do Distrito de Aveiro. Vol. 2, nº 8 (1936), 293-306 [Nas p. 298-306 estão incluídas as informações paroquiais de 1758 referentes a Ílhavo, que abrangia povoações do actual concelho de Aveiro (Sá e Verdemilho)].
MADAÍL, António Gomes da Rocha, ed. (1959) – Milenário de Aveiro: Colectânea de documentos históricos I (959-1516). Aveiro: Câmara Municipal. 330 p.
PIEL, Joseph-Maria (1989) –
Estudos de linguística histórica galego-portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989. 282 p. (Estudos Gerais/Série Universitária).

CARREGA, CARRIÇO, CARRAZEDA e outros membros da família

Portugal: CARRACEDO, CARRAÇOSA, CARRAGOSA, CARRAGOSELA, CARRAGOSO, CARRAZEDA, CARRAZEDE, CARRAZEDELO, CARRAZEDO, CARREÇO, CARREGA, CARREGADO, CARREGAIS, CARREGAL, CARREGOSA, CARREGOSO, CARREGUEIRA, CARREGUEIRAS, CARREGUEIRO, CARREGUEIROS, CARRIÇA, CARRIÇAIS, CARRIÇAL, CARRIÇAS, CARRIÇO, CARRIÇOS, CARRIÇOSA. Galiza: CARRACEDO, CARRACEDOS, CARRACEIRA, CARRACHAL, CARRACIDO, CARRAGAL, CARRAGOSO, CARRAGUEDO, CARRAXO, CARREGAL, CARREGOSA, CARREIXAS, CARREXA, CARREXO, CARRICEIRA, CARRIGUEIROS, CARRIZA, CARRIZAL, CARRIZÁNS, CARRIZO, CARRIZÓ, CARRIZOS. Espanha (castelhano): CARCEDA, CARCEDO, CARRACEDA, CARRACEDELO, CARRACEDO, CARRIEDO, CARRIZAL, CARRIZO, CARRIZOSA. Espanha (por evolução moçarábica): CARCHE, (Alicante-Múrcia), CÁRCHEL, CARCHELEJO, CÁRCHELES (Jaén), CARCHOLS, CARRAIXET (Valência), CARRICHES (Toledo), CARRICOLA (Valência).

Estamos em presença de topónimos antiquíssimos, quase todos formados no latim popular. A elevada frequência das ocorrências, um pouco por toda a Península Ibérica, e as suas numerosas formas, a denunciar substratos diferenciados, indiciam apelativos profundamente relacionados com a vida material de antanho.
Os apelativos em questão ligam-se ao latim carex, carice- no acusativo, donde resultou o vernáculo "carrega" ou "carriço", uma planta gramínea, indígena da Península Ibérica, com cerca de dois metros de altura, raiz larga e rasteira, folhas lisas e flores em espigas largas. Cria-se junto da água e em terrenos pantanosos, o que justifica o empréstimo do nome a alguns hidrónimos, tendo sido muito importante no antigo mundo rural, considerando que as raízes tinham propriedades medicinais, as folhas serviam para forragem, os talos para construir as coberturas das palhoças e as espigas para fazer escovas.
Entre as várias espécies, que podem ser encontradas em Portugal, destacam-se a carex divulsa ("carrega") e a carex arenaria ("carriço-da-areia"), a primeira bastante vulgar na zona alagada do Baixo-Vouga.
Num documento do mosteiro de Grijó, dos finais do século XIII, pode ler-se que os homens que habitavam nas proximidades da lagoa de Paramos, na terra da Feira, «hião ahi colher a carrega, e o junco, e a madeira pêra cobrir as casas» (Viterbo, vol. 2, p. 137) e, nas inquirições de D. Dinis, também se fala da «alagoa [onde] vinham colher o corecil e a carrega» (apud Fernandes, 1999: 155).
Em Portugal, os derivados "Carrazedo", "Carregado", "Carregosa", "Carregal" e "Carregueira" devem ter sido formados a partir do latim vulgar, a derivar respectivamente de *caricetu, *caricatu, *caricosa, *caricale e *caricaria.
Entre os "carriço(s)" e "carriça(s)", que integram expressões toponímicas, haverá alguns antropónimos, uns com origem na toponímia, mas outros possivelmente criados com base na similitude entre a configuração das espigas da "carrega" e os cabelos crespos do indivíduo nomeado.
Quanto à localização das ocorrências portuguesas, encontramos Carriça(s) essencialmente nos distritos de Bragança e Vila Real; Carriçal, Carriçais e Carriço(s) concentrados nos distritos de Faro, Beja e Leiria; Carrazeda, Carrazede e Carrazedo com quase todas as ocorrências nos distritos de Vila Real, Bragança e Braga; Carregado com forte concentração no distrito de Lisboa; Carregosa e Carregoso entre Minho e Mondego, com especial incidência no distrito de Aveiro; por último, Carrega, Carregais e Carregal, quase todos entre Douro e Tejo, com mais ocorrências nos distritos de Santarém e Viseu, seguidos de Castelo Branco e Coimbra.

Bibliografía:
ACADEMIA Española, Real, Diccionario de la lengua española. 21ª ed. Madrid: Editorial Espasa Calpe, 1997. 2 vol., 2135 p. ISBN 84-239-9416-3.
BLUTEAU, Rafael, Vocabulário Portuguez e Latino. Coimbra, 1712-1721. 8 vol.
CABEZA QUILES, Fernando, Os nomes de lugar: Topónimos de Galicia: a súa orixe e o seu significado. 1ª ed. Vigo: Edicións Xerais de Galicia, 1992. 561 p. (Montes e Fontes). ISBN 84-7507-688-2.
CELDRÁN, Pancracio, Diccionario de topónimos españoles y sus gentilicios. Madrid: Espasa, 2002. XVIII, 1059 p. ISBN 84-670-0146-1
FERNANDES, A. de Almeida, Toponímia Portuguesa: Exame a um dicionário. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999. 576 p. ISBN 972-9474-13-3.
FRAZÃO, A. C. Amaral, Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Rev. e actual. de A. A. Dinis Cabral. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1981. 1040 p. + 23 actualização.

NAVAZA BLANCO, Gonzalo (2006) — Fitotoponimia galega. [A Coruña]: Fundación Pedro Barrié de la Maza. 696 p. (Biblioteca Filológica Galega). ISBN 84-95892-53-7. Tese de doutoramento.

NIETO BALLESTER, Emílio, Breve diccionario de topónimos españoles. Madrid: Alianza Editorial, 1997. 447 p. ISBN 84-206-9487-8
REIS, Álvaro (1993), Ria de Aveiro: memórias da natureza. Ovar: Câmara Municipal de Ovar. 137 p.

Vila, Vilar, Vilarinho: partes e derivados

As villae, "vilas", foram introduzidas no Noroeste da Hispânia no tempo de Augusto. Eram grandes explorações agrícolas, já divididas em duas partes, uma cultivada directamente pelo proprietário, através de servi, dirigidos por um feitor, enquanto a outra parte se fraccionava em parcelas, distribuídas por homens livres ou por servi que as agricultavam isoladamente.
Dentro destes latifúndios havia várias construções, entre as quais a villa urbana, residência temporária ou permanente do proprietário -- o dominus "senhor, dono, senhor da casa" -- que, no Noroeste ibérico, se denominava palatium (> Paaço > Paço) ou o seu diminutivo palatiolum (> Paaçolo > Paçô).
Nas proximidades do palatium — a casa do dominus — estendia-se a chamada villa rustica, fechada em torno de um eido ou eirado, onde se encontravam todas as outras instalações de apoio à actividade agrícola, como os aposentos dos servi, os celeiros, arrecadações para as alfaias e as cortes do gado.
Mais afastadas, em grupo ou isoladamente, erguiam-se as pequenas casae, "casas", dos camponeses das parcelas independentes. Eram casas de vários tipos, umas cobertas de telha ou de colmo, outras pequenas cabanas, de construção mais precária e pobre. Estas habitações camponesas eram conhecidas por casarii, vindo a designar, a partir do século IV, a globalidade da fracção distribuída a cada família, e os marcos que delimitavam essas parcelas chamavam-se casales. Com o andar do tempo, o casarius (> "caseiro") veio a designar o caseiro ou rendeiro, enquanto os casales (> "casais") deixam de ser sinónimo de marcos, para denominar a parcela que individualizavam.
A crescente fragmentação da villa trouxe outras denominações para as respectivas subunidades, designadas no Noroeste hispânico por casale- (> casal), quintana- (> quintã) ou quinta- (> quinta), villare- (> vilar) e villarinu- (> vilarinho) que, na Alta Idade Média, se tinham já transformado em prédios independentes (Sampaio, 1979, v.1: 67-75).
A evolução destas fracções veio, na Baixa Idade Média, a alterar o sentido de muitas destas falas. Assim, a "Vila", do latim villa-, passou a designar um povoado de dimensão equivalente às nossas aldeias e pequenas vilas; "Vilar", do latim villare-, foi no baixo-latim um adjectivo derivado de villa, que acabou substantivado, significando aldeola ou lugarejo; "Vilarinho", do latim villarinu-, de villare- + ‑inu-, sufixo diminutivo, nomeou igualmente uma pequena aldeia ou lugar. "Casal", do latim casale- que, como vimos, designava primitivamente os marcos de uma parcela agrícola, passou a significar essa mesma unidade agrícola, na sua totalidade, incluindo a casa e as terras, e o plural “Casais” (do latim casales) acabou por indicar também um pequeno lugar, um lugarejo.
Em 1527, quando em Portugal se fez o primeiro numeramento ou contagem dos fogos, na área do actual município de Aveiro havia as vilas e concelhos de "Aveiro", "Esgueira", "Eixo" e "Arada", com diferentes graus de autonomia, o que se reflectia nos poderes e tipos de magistraturas locais, para que eram eleitos os cidadãos mais ricos e influentes, os chamados “homens bons” dos alvores da nossa nacionalidade. Entretanto, a vila de Aveiro tinha saltado as muralhas mandadas construir pelo infante D. Pedro, estendendo-se para Norte, a Vila Nova dos mareantes e pescadores, documentada desde 1431, e para Sul, o Cimo de Vila documentado desde 1556 e a condizer com a topografia local.
Todas estas "vilas" estavam, em 1527, sujeitas a autoridades senhoriais que, por isso mesmo, aqui arrecadavam diferentes rendas e alcavalas: Aveiro pertencia a D. Jorge de Lencastre, filho natural de D. João II, Mestre de Santiago e Duque de Coimbra; Esgueira pertencia ao Mosteiro de Lorvão (no cível) e à Coroa (no crime); Eixo estava nesta altura na posse da Coroa, passando mais tarde para a Casa de Bragança; Arada pertencia ao Mosteiro de Grijó, de que era prior o bispo de Safim.
Para além das abundantes ocorrências de todos estes topónimos, essencialmente no centro e norte de Portugal, encontrámos no concelho de Aveiro as formas a seguir enumeradas que, nalguns casos, pelo menos a nível da microtoponímia, já terão desaparecido debaixo das numerosas urbanizações dos últimos anos:
Casal (nas freguesias de Aradas, Cacia, Eixo, Esgueira e Requeixo);
Casais (nas freguesias de Eirol e Esgueira);
Paço (nas freguesias de Cacia, Eixo e Esgueira);
Quinta (várias, em expressões toponímicas, nas freguesias de Aradas, Cacia, Eirol, Eixo, Esgueira, Glória, Oliveirinha, Requeixo, Vera Cruz, Nossa Senhora de Fátima, Santa Joana, São Bernardo e São Jacinto);
Quintã (várias, nas freguesias de Aradas, Cacia e Requeixo);
Quintal (em Quintal da Eira, microtopónimo da freguesia de São Bernardo);
Quintarola (microtopónimo da freguesia da Vera Cruz);
Quintas (nas freguesias de Aradas, Cacia, Eixo, Esgueira, Nariz, Oliveirinha e Nossa Senhora de Fátima);
Quintãs (nas freguesias de Nariz, Oliveirinha e Requeixo);
Quintela e Quintilha (microtopónimos da freguesia de Eixo);
Vilar (lugar da freguesia da Glória, na área da extinta freguesia do Espírito Santo, documentado desde 1446);
Vilarinho (lugar da freguesia de Cacia, documentado desde 1106).

Bibliografia:
BARROS, Henrique da Gama (1945-1954) – História da administração pública em Portugal nos séculos XII a XV. 2ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa. 11 vol.
SAMPAIO, Alberto (1979) – Estudos históricos e económicos: 1.As vilas do norte de Portugal; 2. As Póvoas marítimas. Lisboa: Editorial Vega. 2 vol. (Documenta Historica; nº 2 e 3).